A onda ESG está se tornando cada vez mais preponderante no mundo dos negócios. Isso acontece porque diferentes públicos de interesse – cooperados, clientes, investidores e colaboradores, por exemplo – estão demandando sustentabilidade, impacto social, e conduta ética.

Diante dessa tendência, o ESG tornou-se palavra-chave importante nos debates sobre negócios. No cooperativismo, isso não é diferente, tendo em vista que muitas das ideias do ESG estão na essência das cooperativas.

Mas o que significa a sigla ESG, afinal? O termo, criado na publicação Who Cares Wins, reúne três pilares que agregam responsabilidades e propósitos aos negócios. Assim, esse tripé é formado por:

  • Environmental (ambiental): são as práticas corporativas que concernem à conservação do meio ambiente. Portanto, esse pilar engloba temas como poluição da água e do ar, consumo de energia, eficiência na produção, mudanças climáticas, desmatamento e emissão de carbono.
  • Social (social): é como a instituição atua no relacionamento com as pessoas e a comunidade ao seu redor. Estão inclusos, assim, assuntos como promoção de diversidade na equipe, programas de desenvolvimento socioeconômicos, respeito às normas trabalhistas, proteção de dados e privacidade.
  • Governance (governança): princípios aplicados na administração. Envolve o relacionamento com governos, políticos e poder público, efetividade de ouvidoria, disponibilização de um canal de denúncias, composição do conselho, estruturação do organograma e transparência.

Neste artigo, vamos entender como o ESG afeta os negócios, como as cooperativas podem atuar para potencializá-lo e a importância de estabelecer métricas. Aproveite a leitura!

Como o ESG afeta os negócios

Os investimentos em ativos globais ESG nos negócios estão em alta. Tanto que eles devem ultrapassar US$ 53 trilhões até 2025, representando mais de um terço dos US$ 140,5 trilhões em ativos totais sob gestão projetados.

Segundo análise da Bloomberg Intelligence, o cenário criado pela pandemia e a recuperação verde nos EUA, União Europeia e China vai evidenciar a força do ESG. A partir desse cenário, o ESG poderá ajudar a avaliar novos riscos financeiros e controlar mercados de capitais.

Ademais, iniciativas condizentes com os pilares do ESG têm o potencial de causar impactos marcantes nos negócios:

Geração de valor

Propostas ESG são capazes de gerar resultados financeiros positivos por meio da criação de valor, argumenta a consultoria McKinsey. Para tanto, há cinco elos que representam as formas com que o ESG é capaz de agregar valor e, consequentemente, impulsionar os negócios:

  1. Crescimento de receita: dados indicam que iniciativas de ESG têm a capacidade de conquistar as preferências de clientes. Por exemplo, mais de um terço dos consumidores globais aceitam pagar mais caro por produtos sustentáveis.
  2. Redução de custos: a eficácia das iniciativas ESG apoia a redução de custos operacionais relacionados a elementos como água, carbono e matérias-primas como um todo. Dessa maneira, o lucro operacional pode ser positivamente afetado por essas atitudes.
  3. Redução de intervenções regulatória e legais: políticas ESG consistentes auxiliam a diminuir o risco de a cooperativa ser alvo de ações governamentais. Pelo contrário, é possível angariar suporte do poder público, o que alivia pressões regulatórias e abre oportunidades para a busca de subsídios e linhas de crédito condicionadas à sustentabilidade e ao impacto social.
  4. Aumento da produtividade: a coerência da proposta ESG ajuda a atrair e reter talentos qualificados, aprimora a motivação dos colaboradores inspirados pelos propósitos organizacionais e, ainda por cima, melhora a produtividade geral.
  5. Otimização de ativos e investimentos: políticas corporativas conscientes podem melhorar os retornos sobre investimentos. Isso é possível por meio da alocação de recursos em oportunidades promissoras e sustentáveis.

Perspectivas de ampliação

O mercado de investimentos em ESG não para de crescer e as previsões indicam que essa tendência ainda vai não só perdurar, mas acelerar.

Conforme números do Banco Central, a emissão de “dívidas verdes” – ou seja, títulos relacionados à sustentabilidade – disparou entre 2020 e 2021. A emissão de dívida sustentável ainda é liderada pela Europa. No entanto, cada vez mais emissores asiáticos, norte-americanos e latino-americanos estão emergindo.

Dessa forma, percebe-se que o mercado está ativamente privilegiando iniciativas que prezam pelos princípios do ESG. Em virtude desse crescimento, cooperativas que integram esses pilares têm acesso a uma gama mais ampla de oportunidades para expandir os negócios.

O ESG também é uma ferramenta importante para as coops que querem ampliar a atuação para outros países. Diversos países e blocos econômicos estão apertando as regulações, exigindo certificações que asseguram práticas condizentes com o ESG. Obrigatória na União Europeia, por exemplo, a Marcação CE leva em conta a proteção ambiental.

Demandas dos públicos de interesse

O consumo consciente e a agenda ESG estão entre as principais tendências no mundo dos negócios. Tradicionalmente, a lógica de consumo se baseia no atendimento das necessidades imediatas dos usuários, mas essa dinâmica está mudando.

Agora, por outro lado, o público está ficando atento ao desperdício de recursos naturais, impactos nas emissões de poluentes e condições de trabalho dos empregados.

Liderado pelos millennials e pela geração Z, esse movimento interfere também na forma com que governos, órgãos reguladores e atores gerais do ambiente econômico lidam com essas questões. Segundo a Deloitte, com efeito, 90% dos membros dessas gerações afirmam que estão fazendo esforços para reduzir o impacto ambiental.

Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

Os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável compõem uma agenda global que tem como pilares: pessoas, planeta, prosperidade, paz e parcerias. Por isso, eles refletem de forma mais concreta os impactos e metas para nortear a atuação das cooperativas em suas iniciativas visando o ESG. Os ODSs são os seguintes:

  1. Erradicação da pobreza
  2. Fome zero
  3. Boa saúde e bem-estar
  4. Educação de qualidade
  5. Igualdade de gênero
  6. Água limpa e saneamento
  7. Energia acessível e limpa
  8. Emprego digno e crescimento econômico
  9. Indústria, inovação e infraestrutura
  10. Redução das desigualdades
  11. Cidades e comunidades sustentáveis
  12. Consumo e produção responsáveis
  13. Combate às alterações climáticas
  14. Vida debaixo d’água
  15. Vida sobre a terra
  16. Paz, justiça e instituições fortes
  17. Parcerias em prol das metas

Esses objetivos ajudam a cooperativa a entender quais fatores podem ser impactados pela sua operação e, por consequência, como ela pode melhorar e contribuir para o desenvolvimento sustentável. No mais, segundo um guia proposto pelo Pacto Global das Nações Unidas, os ODSs ajudam as organizações a:

  • Identificar oportunidades futuras de negócios;
  • Valorizar a sustentabilidade corporativa;
  • Fortalecer as relações com as partes interessadas;
  • Investir em um ambiente social e propício aos negócios;
  • Utilizar uma linguagem comum com uma finalidade compartilhada.

Ações para potencializar o ESG

A rápida ascensão da sustentabilidade na agenda global está conduzindo o mundo em direção a um novo conjunto de prioridades. Tanto que, nos próximos cinco anos, a expectativa é de que os investimentos em ESG dobrem.

Diante desse cenário que se desenha para o futuro, nossa Análise econômica n° 57 lista cinco ações para potencializar o ESG nas cooperativas. Portanto, elas são:

  1. Envolvimento com as demandas das partes interessadas: os consumidores estão cada vez mais interessados por ações transparentes e, assim, cobram evidências de mudança.
  2. Responder interesse dos investidores e cooperados: os negócios que desejam ser atraentes para investidores devem ter o ESG como prioridade.
  3. Dominar a narrativa ESG: líderes devem pensar sobre as oportunidades disponíveis para diferenciar seus negócios perante a concorrência. Para isso, precisa definir seus valores, integrá-los à estratégia e divulgá-los com clareza e efetividade.
  4. Compreender os dados: os negócios precisam entender os dados dos riscos climáticos para que possam tomar as melhores decisões. É um pilar decorrente de praticar uma gestão data driven.
  5. Ter uma abordagem ampla: os negócios precisam inserir com sucesso os fatores do ESG nas decisões em todas as partes da organização. Isso passa tanto pelo desenvolvimento da estratégia quanto por sua execução.

A importância das métricas

Um dos principais desafios em relação à maturidade do ESG diz respeito à adoção de métricas e indicadores capazes de traduzir a efetividade das políticas de sustentabilidade.

Um levantamento produzido pela Grant Thornton argumenta que, apesar do evidente aumento nas demandas por divulgação dos dados ESG, a aplicação de métricas e parametrizações não está estabelecida como deveria.

Números da pesquisa realizada com empresas mercantis de capital aberto exemplificam a dinâmica:

  • 33% delas ainda não adotam métricas quantificáveis a fim de analisar o desempenho do ESG em relação aos aspectos mais relevantes da organização.
  • Pior ainda, 16% sequer possuem qualquer forma de mensuração.
  • Por outro lado, somente 21% afirmam que monitoram indicadores regularmente.
  • 11% dos respondentes avaliam o ESG apenas de forma qualitativa, sem previsão para adoção de metas específicas.

Métricas setoriais

Heiko Hosomi Spitzeck, diretor do núcleo de Sustentabilidade da Fundação Dom Cabral, avalia que “sem métricas a empresa não consegue medir o status quo dos seus impactos sociais e ambientais, nem definir metas de avanço”.

Por isso, métricas são essenciais e devem ter como base a área de atuação da organização, argumenta. A lógica sugerida por Spitzeck sugere que, por exemplo, uma cooperativa agropecuária deva olhar os impactos ambientais de sua produção. De outra forma, uma coop de crédito pode focar em inclusão social e educação financeira.

Divulgando informações

O levantamento conclui, também, que as instituições precisam aprimorar a divulgação das práticas ESG. Apenas 43% das companhias divulgam informações sobre os fatores ESG de forma clara e recorrente e, ainda por cima, somente 23% delas utilizam um relatório de sustentabilidade específico.

Em relação aos públicos de interesse que mais influenciam as decisões sobre divulgação de aspectos ESG, os clientes aparecem à frente dos investidores. Com isso, é possível enxergar uma maior relevância da opinião do público consumidor.

As cooperativas, todavia, apresentam um público de interesse que não é representado pelo estudo: os cooperados. Contudo, um relatório da PwC sobre o ESG nas cooperativas de crédito indica que mais de 70% das coops avaliadas notaram que houve aumento no interesse dos cooperados pela contratação de produtos e serviços relacionados ao ESG.

“As cooperativas de crédito têm sido cada vez mais demandadas pelos seus cooperados e demais partes interessadas a se posicionar de forma concreta, rápida e transparente quanto a sua atuação em relação aos pilares ESG”, explica Elisa Simão, uma das autoras do estudo.

Cooperativismo e ESG

O cooperativismo traz diversos princípios que se correlacionam com o ESG antes mesmo de o conceito ser desenvolvido. Afinal, o foco do movimento cooperativista são as pessoas e não o capital. Seu objetivo, portanto, é promover melhores condições de vida e renda aos seus cooperados.

Tais características, por sua vez, impactam na valorização do meio ambiente e promoção do desenvolvimento local das comunidades nas quais as cooperativas estão inseridas. Assim, é possível delinear premissas do ESG que são intrínsecas ao modelo do cooperativismo.

Iniciativas do ESG no coop

Fabíola Nader Motta, gerente geral da OCB, explica que o objetivo do cooperativismo é promover melhores condições de vida para as pessoas. Isso passa pela valorização do meio ambiente e desenvolvimento das comunidades locais.

O Sistema OCB também marcou presença na COP 26. Fabíola fez parte do painel com o tema “Cooperativismo como ferramenta para a economia de baixo carbono”. Lá, ela apresentou ao mundo parte do que as cooperativas brasileiras fazem para aliar produtividade e preservação ambiental.

Além disso, InovaCoop produziu um artigo que se aprofunda e traz exemplos da relação entre cooperativismo e a agenda ESG, confira aqui.

Conclusão

O aumento da relevância do ESG reflete uma sociedade mais socialmente engajada, preocupada com o futuro da natureza e exigente em relação à ética corporativa. Todos esses fatores carregam impactos nos negócios e, por conseguinte, devem ser alvo de atenção das cooperativas.

Para apoiar ainda mais o protagonismo do cooperativismo brasileiro no ESG, o Sistema OCB está lançando o programa ESGCoop. Ele terá como foco a competitividade e a sustentabilidade dos negócios cooperativistas.

O ESGCoop nasce, também, com responsabilidades referentes à promoção da educação, o fomento ao desenvolvimento local, o combate e à adaptação à emergência climática e a promoção da diversidade. O programa funcionará, portanto, como uma plataforma que compreende esses desafios e busca suas soluções.

Saiba mais sobre o ESGCoop no guia prático produzido pelo InovaCoop!