A transformação digital acelerada causa impactos duradouros nos comportamentos. As gerações mais novas, classificadas como nativas digitais, já nasceram e cresceram lidando com a tecnologia. Dessa forma, com a difusão da conectividade, os hábitos e tendências de consumo estão mudando – e é essencial ficar de olho!

A tecnologia sozinha, contudo, não é o único fator que afeta as lógicas de consumo. A pandemia acelerou a migração para o e-commerce, por exemplo. Além disso, há uma mudança de cultura das pessoas, que estão ficando mais preocupadas com o meio ambiente e questões sociais, privilegiando o consumo sustentável e ético.

No âmbito dos negócios, as cooperativas devem estar atentas a essas mudanças para que possam desenvolver estratégias adequadas às novas realidades. Diante do aumento na competitividade em muitos setores, a demora na adaptação custa caro. Por isso, é importante analisar os mercados e antecipar as tendências de consumo.

Neste artigo, entenderemos o impacto da tecnologia nos hábitos, veremos tendências de consumo e comportamento, o perfil dos consumidores do futuro e as ferramentas para sua cooperativa atualizar os negócios. Boa leitura!

Catalisadores da transformação: tecnologia e conectividade

Em um mundo tão amplamente conectado, é impossível dissociar tecnologia e comportamento de consumo. Graças às redes sociais, as marcas conseguem chegar muito mais facilmente às pessoas específicas que compõem seu público alvo. O marketing digital é mais direcionado, mas, por outro lado, a concorrência também é maior – e o desafio é se destacar.

Empoderadas, as pessoas têm acesso a uma infinidade de informações na palma da mão. Assim, conseguem pesquisar e ficar por dentro de todos os aspectos, positivos e negativos, de um produto ou serviço.

Os seguintes fatores ajudam a explicar o que está mudando:

  • Hiperconexão: as pessoas passam cada vez mais tempo conectadas. A internet é, agora, parte central da vida e do dia a dia. Um levantamento da NordVPN projeta que as pessoas passam 54% do tempo online. Levando em conta a expectativa de vida média, isso equivale a 41 anos passados na internet.
  • Multicanalidade: os consumidores estão aderindo a diversos produtos conectados. Se antes era necessário utilizar um computador, agora tem de tudo: celular, televisão, relógios, tablets, dentre outros. Muitas vezes, uma mesma jornada de compra é feita por meio de mais de um desses aparelhos.
  • Aumento das expectativas: no comércio eletrônico, os consumidores têm acesso a mais possibilidades, acirrando a competição entre quem quer vender. Com isso, além do preço, eles procuram as melhores experiências de compra e pesquisam pelos produtos e serviços de maior qualidade.

O mundo pós-Covid

Mais do que criar tendências em si, a pandemia acelerou movimentos que já estavam em curso. O e-commerce, por exemplo, já vinha em uma curva ascendente, mas foi ainda mais importante durante o período de isolamento social.

Segundo a consultoria PwC, o comércio digital, que em 2019 respondia por 13,9% das vendas do varejo, vai representar uma fatia de 22,4% em 2023. Além de mais gente estar comprando nos canais digitais, a variedade de oferta aumentou. Mantimentos e roupas, por exemplo, se tornaram mais comuns nessa modalidade.

A pandemia também tirou muita gente do escritório e, apesar da reabertura, ainda tem uma parcela grande da força de trabalho que prefere ficar em casa. Nota-se, também, uma preocupação crescente com a saúde mental e o bem-estar.

Mudança de hábitos: 6 tendências para o futuro do consumo

Comportamento e tendências de consumo são assuntos que ocupam a cabeça de muitas lideranças do mundo dos negócios. Entender e antecipar os movimentos do mercado não é um desafio fácil. Por isso, nomes importantes estão tentando entender a cabeça das novas gerações de consumidores e os caminhos que o relacionamento com os clientes deve tomar.

Para ajudar as cooperativas a enxergar essas tendências, o ConexãoCoop reuniu uma série de estudos sobre comportamento e futuro do consumo. Essa lista foi construída com base em estudos da PwC, Euromonitor, Ilegra, Deloitte, Salesforce e W Futurismo. Confira:

1. E-commerce e recommerce

Mesmo com a queda nas restrições, o crescimento do e-commerce não dá sinais de que vai desacelerar. Com isso, grandes nomes devem investir cada vez mais na modalidade, implementando inovações e otimizando a segurança.

Públicos que não estavam habituados a fazer compras online, como os idosos, tiveram de aderir aos serviços digitais, e eles representam uma boa oportunidade de mercado. Outra movimentação notável é a busca por otimizar a logística, de forma a realizar entregas de produtos adquiridos pela internet mais rapidamente.

O recommerce é mais um derivado da potencialização do consumo online. Trata-se da revenda de produtos de segunda mão pela internet, de forma que produtos usados ou reformados voltem ao ciclo de consumo com custos menores e impacto ambiental reduzido.

2. Mudanças nas fronteiras

A globalização expande a possibilidade de negócios. Mais do que nunca, é possível operar e explorar novos mercados. Ao mesmo tempo em que o comércio digital opera como uma prateleira global, as marcas podem identificar oportunidades de ingressar em mercados com alto potencial.

Nesse cenário, a exportação é uma ótima oportunidade para o crescimento dos negócios das cooperativas. E o ConexãoCoop está de olho nisso. Já explicamos a importância das feiras e missões internacionais, vimos a possibilidade de participar de rodadas de negócios mundo afora e mostramos como as certificações são essenciais para as exportações.

3. Em busca de propósito

Não basta mais apenas oferecer bons produtos – consumidores querem que as marcas ecoem seus valores e princípios. Mundo e mercado buscam descobrir e comunicar seus propósitos, com foco na dedicação às questões humanas. Os consumidores preferem marcas que colocam as pessoas antes do lucro. A Ilegra chama esse movimento de “Propósito 2.0”.

O Purpose Premium Index Brasil 2021, realizado pela agência de comunicação InPress Porter Novelli, descobriu que cerca de 90% dos consumidores brasileiros confiam mais em marcas com propósito. E isso se reflete também na prática. Ao todo, 88% das pessoas preferem comprar produtos de marcas que defendam causas valiosas.

4. Consumo consciente: a agenda ESG

A agenda ESG tem três pilares: meio ambiente, responsabilidade ambiental e governança. A preocupação com esses fatores leva ao constante aumento das práticas sustentáveis. Esse fenômeno passa ativamente pela pressão dos consumidores. Boa parte das pessoas aceita até mesmo pagar mais caro por produtos com produção ética e sustentável.

O propósito de um produto não se restringe mais ao atendimento das necessidades imediatas e desejos dos usuários. O público está cada vez mais atento ao desperdício de recursos naturais não-renováveis, impactos nas emissões de gases poluentes e condições de trabalho dos empregados. Cria-se um sentimento de “ansiedade ética”.

Essa característica ganha força quando analisamos o perfil dos millennials e da Geração Z levantado pela Deloitte. Cerca de 90% dos entrevistados afirmam que estão fazendo esforços para reduzir o impacto ambiental. E isso passa pelas decisões tomadas na hora de consumir.

“Os consumidores tinham o costume de exigir qualidade – o que continua sendo importante -, mas agora também estão procurando por fatores como consciência ambiental, diversidade e inclusão. Esses são os elementos de uma marca atua”, argumentou Samrat Sharma, CMO da PwC dos Estados Unidos.

Para saber mais sobre ESG e sua relação com o cooperativismo, confira este texto publicado pelo InovaCoop, que apresenta exemplos e boas práticas de implantação.

5. Vida saudável e cuidados pessoais

A saúde mental está no foco das preocupações das novas gerações. O bem-estar psicológico é tão importante quanto a saúde física, e implica mudanças no estilo de vida. Fatores como nutrição, beleza, atividade física e auto aperfeiçoamento estão no centro de muitas decisões de consumo.

O cuidado com a própria imagem também aparece como um ponto de destaque nos novos hábitos de consumo. Produtos que proporcionam conforto, aceitação da própria identidade e satisfação pessoal serão cada vez mais procurados. As marcas que incorporam essa jornada de amor-próprio levam a preferência.

6. O futuro da comida

O consumo de alimentos caminha para um futuro que demanda comida mais saudável, natural e produzida de forma sustentável, mesmo que isso encareça os produtos. A pesquisa global da PwC descobriu que mais da metade das pessoas estão incluindo mais opções vegetais em seus hábitos alimentares.

Alimentos produzidos localmente têm a preferência dos novos consumidores, que dão mais valor a esses produtos porque os enxergam como mais éticos e sustentáveis. Como vimos, o comércio de comida está aderindo ao digital, ampliando as possibilidades de entrega e maior personalização às preferências de cada cliente.

O perfil do consumidor do futuro

Para capturar os fatores humanos e comportamentais que vão interferir nos negócios, a WGSN buscou antecipar qual será o perfil dos consumidores em 2024. A partir da compreensão dos sentimentos dos consumidores, a agência elaborou os principais padrões que devem classificar os hábitos dos novos públicos.

Os quatro principais sentimentos identificados para esses consumidores futuros são:

  • Choque com o futuro: as mudanças velozes nas dinâmicas sociais e surgimento de novas tecnologias geram uma sensação de apreensão pelo excesso de transformações. A percepção é de que o tempo está passando mais rápido, causando ansiedade e incentivando a adoção de comportamentos viciantes.
  • Excesso de estímulos: a constância da conectividade causa uma profusão de estímulos sensoriais, como barulhos e luzes artificiais. Uma consequência disso é a redução da capacidade de concentração e atenção.
  • Otimismo realista: é um contraponto à positividade tóxica, rejeitando a ideia de um estado permanente de felicidade. É possível desenvolver sentimentos positivos em momentos difíceis, sem recorrer a uma certa “cultura da superação”.
  • Encantamento: misto de medo e admiração, é um sentimento que esteve em segundo plano nos últimos dois anos. Esses momentos foram trocados pela estabilidade e certeza, em detrimento da descoberta.

A partir destes sentimentos, a agência classificou os consumidores do futuro próximo dentro de quatro categorias.

Reguladores

Avessos às mudanças, os reguladores querem manter um bom equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Para eles, a incerteza é mais incômoda do que a incerteza de algo ruim. Por isso, dão muita importância em manter o controle da própria vida.

As mudanças constantes no cotidiano durante os últimos anos causaram uma fadiga nesse perfil. A necessidade constante de adaptar é cansativa e estressante.

Para engajar esse público, os negócios precisam se adaptar ao comércio sem contato, que foi adotado entusiasticamente por essas pessoas. Sem interesse em ter carros, a entrega a domicílio é fundamental para a decisão de compra deles. O comércio por voz promete atendê-los bem.

Conectores

Majoritariamente formado pelas gerações mais jovens, são pessoas que querem ter menos filhos, optam por viver de forma compartilhada e trocam de emprego com velocidade recorde. A insatisfação com os hábitos de trabalho tradicionais os levam ao empreendedorismo, abrindo negócios que não seguem a lógica da alta produtividade.

Sem forte apego à sensação de posse, são essas pessoas que compartilham moradias e aderem aos serviços de streaming. A opção de consumo se dá pela conveniência aliada à responsabilidade social e ambiental. Comunicar bem a procedência ética de um produto pode impulsionar as vendas a esse público.

Construtores de memórias

São pessoas que focam no tempo presente, simplificando a vida e rejeitando a ideia de busca pela perfeição. Enxugando as relações interpessoais, é um público que prefere manter menos relações, mas com maior proximidade, mesmo que isso signifique redefinir a ideia de núcleo familiar.

É um grupo que se casa menos e se divorcia mais e quer viver mais e aproveitando melhor os momentos. Eles são ótimas oportunidades para os segmentos de beleza, alimentação e tecnologia.

Neo-sensorialistas

Consumidores híbridos, eles usam carteiras digitais para comprar em lojas físicas e são entusiastas da realidade virtual. Para eles, a tecnologia representa esperança, e não algo com que se preocupar.

São os neo-sensorialistas que impulsionam o interesse pelo metaverso e se engajam nas construção da web3, uma internet descentralizada, privada e conectada. A descentralização também chega à vida financeira, por meio das criptomoedas.

Atualizando os negócios para o consumidor do futuro

Para encarar as mudanças de comportamento e aproveitar as novas tendências de consumo, há uma série de práticas que as cooperativas podem aderir. Transformações nos hábitos demandam transformações nos negócios. Essas são algumas maneiras de tornar os negócios adequados às novas tendências e demandas de mercado:

  • Presença digital: é necessário estar onde os consumidores estão, e cada vez mais eles estão na internet. A presença nas redes sociais ajuda a chegar a mais gente e com maior assertividade.
  • Uso de dados: o uso efetivo de dados é fundamental para uma gestão moderna, arrojada e eficiente. Com eles, é possível entender melhor os seus públicos e, assim, desenvolver estratégias adequadas para atraí-los e atendê-los. O matemarketing, por exemplo, é uma técnica que usa dados para otimizar as vendas.
  • Automação: a participação de robôs autônomos na cadeia produtiva está crescendo e já há projetos para empregá-los no relacionamento com os clientes, sobretudo para realizar entregas.
  • Experiência no atendimento: a exigência pela qualidade do atendimento influencia a decisão de consumo. Metade dos consumidores ouvidos por uma pesquisa da American Express desistiram de alguma compra após uma experiência ruim no processo.
  • Omnicanalidade: como vimos, a jornada de compra não acontece mais em apenas uma plataforma. É importante fornecer variedade de canais físicos e digitais de interação com o cliente.
  • Inclusão e diversidade: as novas gerações estão mais seguras de empoderar suas identidades e querem se ver representadas pelas marcas que consomem.

Conclusão

A saúde dos negócios requer uma constante atualização e adaptação ante tempos de mudanças frequentes e ingresso de novas gerações no público consumidor. Aliados aos efeitos da pandemia e ao progresso tecnológico sem precedentes, esse desafio não será simples, mas precisa ser enfrentado.

Muitos dos aspectos apresentados já fazem parte do modelo de negócio cooperativista. O ESG, por exemplo, está presente nos valores cooperativistas desde sempre. Transformação sustentável das comunidades locais e participação ativa dos membros colocam as cooperativas na proa da agenda ESG antes mesmo do termo existir.

Como apontou Fabíola Nader Motta, gerente-geral da OCB, o objetivo do cooperativismo é promover melhores condições de vida para as pessoas. Isso passa pela valorização do meio ambiente e desenvolvimento das comunidades locais.

Ainda assim, as cooperativas precisam ficar de olho para os movimentos de mercado. Atualizar os processos e seguir em busca da inovação espanta o risco de tornar os negócios obsoletos e antiquados. Conforme o mundo muda, o consumo ganha novos aspectos, e quem não acompanhar corre o risco de ser deixado para trás.