As cooperativas que pretendem explorar as possibilidades do comércio exterior precisam entender os mercados que almejam e mostrar os seus diferenciais. Cada país tem as suas peculiaridades, obrigações e hábitos de consumo, e a cooperativa precisa mostrar que seus produtos são adequados para atender a esse público.

É aí que entram as certificações, documentos que mostram ao mercado que a cooperativa cumpre os requisitos legais para operar em determinado país e comprovam a qualidade dos produtos. Via de regra, elas atestam padrões de produção, armazenagem e comercialização, assegurando que requisitos de qualidade ou procedimentos foram seguidos.

As certificações podem ser cedidas por organizações da sociedade civil ou pelo poder público, a depender de seu caráter. Há, ainda, dois tipos de certificações: as compulsórias e as voluntárias.

Neste artigo, veremos quais são os benefícios de obter certificações, entender os seus tipos e explicar para que servem algumas das certificações mais importantes para as coops que almejam exportar. Faça uma boa leitura!

Por que as certificações importam

Quando a concorrência é global, as certificações representam os diferenciais dos produtos oferecidos pela sua cooperativa. Com esses documentos, a coop comprova seus métodos de produção, obtendo autorização para vender a certos lugares ou angariando vantagem competitiva.

Afinal, muitas características valorizadas de um produto não são facilmente identificáveis. A certificação cumpre o papel de atestar que o seu produto possui os atributos desejáveis. Na prática, ela opera como uma comunicação entre comprador e vendedor, confirmando a veracidade desses atributos.

O Siscomex, Sistema Integrado de Comércio Exterior, ligado ao Governo Federal, explica que as certificações são benéficas para os fabricantes e exportadores:

  • Benefícios para o fabricante: as certificações garantem uma implementação eficaz dos sistemas de controle e garantia de qualidade, aumentando a competitividade de seus produtos. Também aumenta a satisfação dos clientes e facilita o fechamento de novos negócios.
  • Benefícios para o exportador: quando uma certificação é atribuída por uma entidade que possui acordos internacionais de reconhecimento, evita-se a necessidade de certificação no país de destino da venda.

Escolhendo a certificação

Embora vantajosa, a obtenção de uma certificação também tem o potencial de ser um tanto trabalhosa. A conquista do documento pode demandar adaptações no sistema de produção e gerenciamento da cooperativa, afetar a cadeia de fornecedores, exigir investimentos em equipamentos e adaptação de embalagens, alerta o Siscomex.

Tudo isso apresenta o risco de aumentar substancialmente os custos da cooperativa, que, a depender do caso, talvez não compense as vantagens competitivas de se ter a certificação. Por esse motivo, uma análise criteriosa de custo-benefício deve ser realizada antes de implementar um processo de certificação.

Para ajudar nessa tomada de decisão, o International Trade Centre – ITC disponibiliza a ferramenta Standards Map. A ferramenta possibilita avaliar mais de 200 modalidades de certificações para uma ampla gama de produtos e serviços.

Certificações compulsórias

Por razões sanitárias, comerciais ou culturais, muitos países ou blocos econômicos demandam determinadas certificações para que os produtos da cooperativa possam ser comercializados em seus territórios.

Se o objetivo da sua cooperativa é exportar, a obtenção das certificações obrigatórias deve ter total prioridade. Pesquise profundamente as regulações locais e avalie os custos para produzir os seus produtos em conformidade às exigências.

Confira exemplos de certificações compulsórias:

Certificação Halal

Na cultura islâmica, a produção dos alimentos deve atender a um padrão ético baseado nos princípios religiosos. Para que as cooperativas possam exportar sua produção para muitos dos países de maioria muçulmana, elas precisam da certificação Halal, fornecida por alguma entidade islâmica autorizada, que atesta a realização dos procedimentos adequados.

É vetado aos muçulmanos o consumo de alimentos que contenham matérias primas ou insumos considerados impróprios, como quaisquer produtos derivados de suínos e sangue animal (mesmo aqueles abatidos em conformidade aos princípios Halal).

Certificação Obrigatória da China

O país oriental representa uma grande oportunidade de negócios para as cooperativas brasileiras. Quem pretende acessar esse mercado com determinados produtos deve, necessariamente, ajustar seus processos para obter o China Compulsory Certification (CCC).

Estabelecida em 2002, a CCC busca padronizar uma gama de produtos de acordo com as diretrizes chinesas. A certificação é expedida por órgãos chineses de controle e demanda a realização de testes em laboratórios e inspeção de fábricas.

Marcação CE

Uma série de produtos só podem ser comercializados nos países que compõem a União Europeia se carregarem a Marcação CE. A certificação registra que os materiais atendem aos requisitos europeus de segurança, saúde e proteção ambiental.

As regulações atingem produtos como brinquedos, dispositivos médicos e equipamentos de pressão. A Marcação CE deve estar estampada no material.

British Retail Consortium

A certificação BRC atesta a qualidade, conformidade legal e segurança de alimentos que são comercializados no Reino Unido. Qualquer cooperativa que pretenda exportar os seus produtos para o mercado britânico deve atender aos requisitos exigidos pela norma.

Certificações voluntárias

As certificações voluntárias não são exigidas para que os produtos sejam vendidos em determinado país e sua obtenção depende exclusivamente da decisão da cooperativa.

Ainda que não sejam obrigatórias, essas certificações podem ajudar a impulsionar as exportações. Afinal, elas garantem conformidade com processos de qualidade, responsabilidade ambiental, social e agregam diferenciais competitivos.

Veja algumas certificações voluntárias:

Certificação de Produtos Orgânicos

Produtos orgânicos estão em alta, e ostentar um selo comprovando essa procedência pode representar um grande diferencial para a escolha dos consumidores. A Certificação de Produtos Orgânicos é uma forma de atestar, através de inspeções feitas por agências especializadas, que a produção seguiu normas e práticas da agricultura orgânica.

O órgão que credencia internacionalmente as certificadoras é a International Federation of Organic Agriculture Movements (IFOAM). Ela é a federação internacional que reúne os diversos movimentos relacionados com a agricultura orgânica ao redor do mundo.

Certificação Fairtrade

O movimento global fairtrade surgiu em busca da realização do comércio justo – daí seu nome em inglês. A Fairtrade International, entidade de referência sobre o tema, argumenta que o comércio justo deve beneficiar produtores e consumidores a partir de princípios sociais, econômicos e ambientais.

O selo fairtrade é utilizado justamente para atestar a conformidade desses fatores durante a produção dos produtos, conforme regras que devem ser atendidas e comprovadas. A certificação agrega valor à produção e representa um diferencial para ingressar em novos mercados em que há demanda de consumo consciente.

Certificado de origem

O certificado de origem é um documento que atesta o local em que uma mercadoria foi produzida. Com ele, as cooperativas podem obter tratamento preferencial na hora de exportar para países que possuem acordos comerciais com o Brasil. Dentre as vantagens estão:

  • Tratamento alfandegário especial;
  • Possibilidade de atestar a origem da mercadoria; e
  • Redução de impostos comerciais.

ISO 14000

A série de normas ISO 14000 diz respeito a um sistema de gestão ambiental que apresenta diretrizes para auditorias ambientais, avaliação do desempenho ambiental, rotulagem ambiental e análise do ciclo de vida dos produtos.

O objetivo dessa gama de diretrizes é equilibrar a proteção ambiental e a prevenção de poluição com as necessidades sociais e econômicas. Exibir selos referentes à série da ISO 14000 pode fazer a diferença em um mercado tomado pela onda ESG.

ISO 22000

Outra norma internacional padronizada relevante é a ISO 22000, que rege a segurança de alimentos durante todo o processo de produção, da colheita até a mesa. Grandes nomes do comércio global só fazem negócios com produtoras que apresentam a certificação.

Certificado Kosher

Os produtos consumidos na dieta judaica ortodoxa precisam obedecer a uma série de normas conforme as leis alimentares previstas pela religião. A certificação kosher assegura que os princípios sejam atendidos durante a produção desses insumos.

O documento pode ajudar a cooperativa a ingressar em um mercado que movimenta, aproximadamente, 19 bilhões de dólares por ano.

Conclusão

As certificações abordadas por esse artigo representam apenas uma pequena amostra desse universo. Cada cooperativa terá certificações e selos que melhor se enquadram a seu tipo de atuação e podem fazer a diferença na hora de apresentar seus produtos no mercado externo.

A obtenção de uma certificação tem que ser cuidadosamente planejada, alerta o Inmetro. O órgão possui, inclusive, um sistema que cataloga os órgãos certificadores cadastrados em sua plataforma.

As certificações incorporam valor ao produto das cooperativas que almejam competir no mercado internacional. Ao ostentar determinado selo, a instituição assegura parâmetros que podem fazer a diferença no momento de fechar negócios e ter o produto aceito em outros países.

Pensando nas possibilidades de expansão das cooperativas, o ConexãoCoop também já publicou este texto sobre como e por que participar de feiras e missões internacionais. Confira!