A sucessão no cooperativismo é um desafio crescente à medida que muitos jovens não se interessam, ou não se sentem representados pelo modelo cooperativista. Embora essas organizações sejam fundamentais para o desenvolvimento econômico e social, o número de jovens no quadro social ainda é reduzido.

Mas, você sabe porque isso acontece? O NegóciosCoop te conta por que os jovens são minoria nas cooperativas e ainda dá dicas sobre como ampliar o número de jovens na sua cooperativa com direito a exemplos práticos inspiradores. Boa leitura!

Sucessão no cooperativismo: por que os jovens são minoria nas cooperativas?

Segundo o Anuário do Cooperativismo de 2024, mais de 50% das lideranças têm mais de 50 anos e 80% com mais de 40. Os ramos mais afetados pelo envelhecimento dos líderes são: Agropecuário, Crédito, Infraestrutura e Transporte.

E, infelizmente, não tivemos mudanças tão significativas. Em comparação com o ano anterior, apenas a presença feminina em cargos de liderança aumentou 1% na faixa entre 20 e 40 anos. Confira, abaixo, a faixa etária dos líderes de 3.692 cooperativas:

A falta de jovens e da sucessão no cooperativismo não é um problema exclusivo das lideranças. O quadro de cooperados também sofre com a ausência de associados mais novos, sejam eles sucessores, ou não, de seus pais.

Segundo Helem Baldissera, analista de relacionamento da Cresol, falta educação cooperativista para os jovens que fazem parte da comunidade onde a organização está instalada. A profissional ainda acredita que a geração mais nova não foi estimulada a participar do cooperativismo e, por isso, se afastou do modelo de negócio.

Já Mariane Natera, que ocupava o cargo de analista de inovação na Coplacana, aponta a evasão no campo como o problema. De acordo com a analista, a evasão é causada pelo pensamento de agricultores de que a profissão rural seria inferior a outras e, por isso, os jovens acabam indo para a cidade estudar.

Como ampliar o número de jovens no quadro social

Nenhum problema é impossível para as cooperativas, não é mesmo? O número de jovens no quadro social e a sucessão no cooperativismo podem aumentar com algumas mudanças, sendo a primeira delas a inserção da educação cooperativa nas escolas.

Além de aprenderem sobre os princípios do cooperativismo e as vantagens que esse modelo de negócios traz para os associados, colaboradores e comunidade, os jovens aprendem sobre educação financeira e sustentabilidade. Para isso, as cooperativas podem firmar parcerias com instituições de ensino ou oferecer workshops e atividades sobre o tema.

Para fomentar ainda mais a participação dos jovens no dia a dia da cooperativa como cooperados, Mariane destaca a importância de “falar a língua” da nova geração e buscar inovar processos. Já Helem acredita ser indispensável entender as dores e os desejos dos jovens, assim, eles se sentem incluídos e participantes.

E para incentivar ainda mais a sucessão no cooperativismo, não podemos esquecer da importância do relacionamento com os familiares cooperados e a interação dos jovens com associados mais velhos. Isso porque a desconexão geracional pode ser evitada quando laços são fortalecidos e relações são criadas.

Cases inspiradores de sucessão no cooperativismo

Algumas cooperativas identificaram a falta de jovens – e de mulheres – em seu quadro social e decidiram promover mudanças. Para isso, as organizações criaram projetos que fomentam a participação desses grupos no dia a dia da cooperativa e nos cargos de liderança, e ainda incentivam a sucessão no cooperativismo.

Vamos conhecer essas iniciativas?

Cresol promove sucessão familiar focada na juventude

Desde sua criação, a Cresol promove ações que apoiam o desenvolvimento dos cooperados, suas famílias e seus empreendimentos. E um dos temas mais importantes e desafiadores é o da sucessão familiar e da cooperativa.

O assunto é alvo de iniciativas que incentivam a gestão familiar dos negócios, proporcionam apoio técnico aos empreendimentos e dão atenção contínua ao empreendedorismo familiar. E o principal incentivo voltado a esse objetivo é o projeto Juventude Conectada.

Antes de sua criação, a cooperativa incentivava os jovens a integrarem o núcleo cooperativista por meio do programa Juventude Cooperativista, realizado em parceria com escolas do ensino médio. Foi durante a pandemia de Covid-19 que a Cresol criou o Juventude Conectada.

O novo – e atual – projeto da cooperativa é voltado para jovens de 18 a 25 anos, que são cooperados ou filhos de cooperados. Os jovens participam de uma jornada de aprendizagem on-line durante 14 semanas que aborda três eixos: cooperativismo, educação financeira e protagonismo.

E os resultados são positivos! Ao todo, mais de 1,2 mil jovens já passaram pelo programa Juventude Conectada e a cooperativa avalia que os resultados obtidos até então são extremamente satisfatórios. O envolvimento dos jovens com a cooperativa também aumentou e agora eles fazem parte dos conselhos de administração e fiscal.

Coplacana: sucessão no cooperativismo agropecuário

Em 2020, a Coplacana identificou a ausência de conexão com os jovens cooperados e familiares dos produtores. Ao buscar jovens interessados em comparecer em um congresso internacional de agricultura, a cooperativa encontrou seu primeiro desafio.

A Coplacana também detectou a falta de informações de contato de filhos, netos e sobrinhos dos cooperados na base de dados. Com a maioria dos cooperados tradicionais envelhecendo, a cooperativa buscava revitalizar a participação dos jovens e combater a lacuna geracional.

A fim de conectar a nova geração ao agronegócio e ao cooperativismo e aumentar a conexão com os jovens cooperados, a organização criou o Núcleo Jovem Coplacana. Para isso, a Coplacana optou por capacitar esses jovens.

A cooperativa focou na faixa etária de 16 a 35 anos, compreendendo os jovens que estavam decidindo sobre suas carreiras e ainda podiam ser influenciados positivamente. A estratégia era garantir a continuidade da cooperativa ao envolver os jovens no agronegócio, tanto para assumir cargos internos quanto para se tornarem proprietários rurais.

A coordenação é eleita anualmente pelos próprios jovens, com regras estabelecidas, incluindo um colaborador da Coplacana para facilitar a comunicação. Já o cronograma anual é definido no início do ano e conta com um orçamento exclusivo.

Desde a implementação da inovação, a Coplacana alcançou resultados notáveis. Com uma média de duas atividades mensais, tanto presenciais quanto online, a cooperativa conseguiu atingir filiais distantes da matriz. E as atividades incluem cursos de gestão de propriedades, marketing, oratória, liderança e até consultorias sobre sucessão familiar e direito sucessório.

Coopfam: sucessão com protagonismo feminino

Impulsionar o protagonismo feminino no campo também é um grande desafio para as cooperativas, em especial as agropecuárias. É por isso que a Coopfam lidera um movimento de mudança e inclusão das mulheres no campo com o projeto Mulheres Organizadas em Busca da Igualdade (MOBI).

Criado em 2006, o MOBI tinha o objetivo de lidar com um problema diagnosticado ainda nos primeiros anos de operação da cooperativa: as trabalhadoras rurais produziam com os esposos, mas não podiam desfrutar de uma série de benefícios, já que não tinham documentações de atividade rural.

Atualmente, o grupo desenvolve projetos específicos para o desenvolvimento de equidade de gênero e protagonismo feminino dentro do campo. Além disso, o MOBI criou uma linha específica de café feminino que valoriza o trabalho que a mulher desenvolve no campo e proporciona empoderamento financeiro e social para as produtoras.

Os cafés foram servidos durante a Copa do Mundo de 2014, sediada no Brasil, assim como nas Olimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016. Eles também receberam menção honrosa no concurso Saberes e Sabores, organizado pela ONU, em 2018. Já em 2019, a Coopfam teve sua primeira presidente mulher.

“Hoje contamos com um maior número de mulheres em todas as áreas relacionadas a nossa cooperativa”, revela Fátima Pires Tavares, técnica do departamento socioambiental da Coopfam. Ela avalia que dar protagonismo às mulheres também ajuda a engajar as famílias com a cooperativa, incentivando o processo de sucessão familiar das propriedades.

Conclusão

Ampliar a participação dos jovens nas cooperativas é um investimento essencial para garantir a sucessão no cooperativismo. Com iniciativas de educação cooperativista, engajamento, e promoção de novas lideranças, é possível transformar o cenário atual e preparar as cooperativas para um futuro mais dinâmico e inclusivo.

Pensando nisso, o CapacitaCoop preparou o curso Sucessão Cooperativista. Dividido em seis módulos, o material é focado na importância da sucessão de líderes e como criar um plano de sucessão que não prejudique a cooperativa e garanta seu desenvolvimento e evolução.