As práticas agropecuárias precisam, cada vez mais, se adequarem às demandas sustentáveis do mercado. Os consumidores buscam marcas que sejam responsáveis com o meio ambiente e com o planeta em que vivemos, e a agricultura regenerativa é um caminho a se seguir pelas cooperativas.

A agricultura regenerativa, desse modo, representa uma alternativa para aliar produtividade com respeito à natureza. Ao mesmo tempo, a produção ambientalmente responsável agrega valor aos produtos das cooperativas.

Neste artigo, portanto, vamos entender o que é a agricultura regenerativa, como ela funciona na prática, quais seus benefícios, seus desafios e ainda conheceremos cooperativas agropecuárias brasileiras que adotam práticas de agricultura regenerativa. Boa leitura!

O que é agricultura regenerativa?

O termo “agricultura regenerativa” é antigo, mas segue extremamente atual. Esse conceito foi popularizado pela organização sem fins lucrativos Rodale Institute, que apoia pesquisas para o desenvolvimento da agricultura orgânica.

A instituição definiu agricultura regenerativa como a construção de sistemas que, além de terem métodos sustentáveis, trabalham para a regeneração do solo. Assim sendo, esses métodos protegem a biodiversidade e a saúde dos ecossistemas impactados.

Tal abordagem emprega ações que reduzem o impacto da atividade agrícola no meio ambiente, como rotação de culturas, processos de revolvimento e plantio em nível, por exemplo. Em vez de focar apenas na produtividade, a agricultura regenerativa também considera o impacto no ecossistema.

Práticas agropecuárias da agricultura regenerativa

Para garantir a responsabilidade ecológica dos negócios, diversas estratégias integram a rotina de uma produção agrícola regenerativa. Entre elas:

Agricultura de conservação

A agricultura de conservação garante uma produção resistente e ambientalmente responsável. Ela visa conservar os recursos naturais e a biodiversidade do meio ambiente durante todo o processo.

Também conhecida como agricultura conservacionista, essa metodologia trabalha com tecnologias para a manutenção do solo, o plantio direto e a diversificação de espécies de plantas em regiões de atividade do campo.

Integração de culturas e árvores com a pecuária

A integração de culturas e árvores com a pecuária, também nomeada de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), é uma estratégia que reúne o cultivo de plantas (lavoura), a criação de animais (pecuária) e o plantio de árvores (floresta) em uma mesma região.

Essa técnica busca aproveitar ao máximo a área de cultivo, aumentando a sustentabilidade e a produtividade, paralelamente.

Restauração da saúde do solo

Uma prática essencial para a agricultura regenerativa é a restauração dos solos usados para plantios. Afinal, o terreno é a base de todas as atividades agrícolas e, se bem cuidado, pode impulsionar a produtividade e a qualidade da produção agropecuária.

Há diversas maneiras de proteger e preservar a qualidade da terra, como:

  • Rotação de culturas com diferentes cultivos em um mesmo terreno.
  • Adubação verde, que utiliza plantas específicas para tornar o solo mais fértil.
  • Plantio direto, no qual as sementes são colocadas sem prévia aração ou gradagem.

Absorção de carbono da biosfera terrestre

Essas e outras estratégias melhoram a qualidade do solo e aumentam o potencial da terra de absorver carbono, contribuindo para mitigar as mudanças climáticas.

O plantio direto, por exemplo, evita a liberação do carbono armazenado no solo. Já na adubação verde, as plantas mantêm a terra saudável, alimentando os microrganismos. Outra ação que favorece a absorção de carbono é a rotação de culturas, que traz mais diversidade de raízes e resíduos para o terreno.

Benefícios de adotar a agricultura regenerativa

As vantagens de adotar a agricultura regenerativa são diversas e não se resumem apenas aos benefícios ecológicos. Essas ações também contribuem para aumentar a eficiência da produção e destacar a cooperativa em um mercado concorrido.

Vantagens para a produção agrícola

Na produção agrícola, as práticas regenerativas aumentam a qualidade e eficiência graças a diversos fatores. São eles:

  • Saúde do solo: sendo a saúde do solo um dos princípios da agricultura regenerativa, esse modelo garante os cuidados necessários para conservar o terreno usado na produção agrícola.
  • Biodiversidade: o cultivo de diferentes culturas e a reutilização do solo promovem a biodiversidade dos ecossistemas, aumentando a quantidade de recursos que podem ser extraídos da mesma região.
  • Resiliência das culturas: a biodiversidade, a saúde do terreno e a alta absorção de carbono garantem um solo fértil e sustentável, resultando em culturas mais resilientes e duradouras.
  • Eficiência no uso de recursos naturais: quanto mais saudável for o ecossistema em que a produção está inserida, mais eficiente será o uso dos recursos naturais. Por meio da adubação verde, por exemplo, é possível se beneficiar ao máximo das plantas que, além de comercializadas, também auxiliam no cuidado do solo.
  • Estoque de nutrientes no solo: quando o solo é explorado com diversidade e equilíbrio, existe uma concentração maior de nutrientes, carbono e outras substâncias importantes para a fertilidade da terra.
  • Mitigação das mudanças climáticas: uma plantação que preserva o meio ambiente também contribui para a diminuição das mudanças climáticas, causando menos impactos negativos na atmosfera e trabalhando para a recuperação dos ecossistemas.

Oportunidades nos negócios

As cooperativas também podem sentir os impactos positivos da agricultura regenerativa na comercialização e no fortalecimento institucional da marca. Algumas vantagens comerciais são:

  • Aderência às novas tendências de consumo: a sustentabilidade não é apenas uma tendência do mercado, mas também uma exigência crescente. Cada vez mais, os consumidores procuram marcas responsáveis com o meio ambiente e com o bem-estar social. Dessa maneira, a agricultura regenerativa alinha-se às mudanças no comportamento do consumidor.
  • Fortalecimento de marcas sustentáveis: pela sua essência coletiva, as cooperativas buscam sempre promover ações que desenvolvam o bem-estar social, e não há como pensar em comunidade sem assumir responsabilidade com o meio ambiente. Sendo assim, a adoção de práticas regenerativas fortalece o compromisso com o aspecto social do cooperativismo.
  • Diferencial para ingresso em novos mercados: a agricultura regenerativa abre portas para diversos mercados, seja pela criação de produtos sustentáveis, seja pela diversificação promovida pela rotação de culturas. A produção certificada também ajuda na busca por explorar o mercado internacional.

Pagamento por Serviços Ambientais

O Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) é um mecanismo financeiro que remunera produtores rurais, agricultores e comunidades tradicionais pelos serviços ambientais que suas terras proporcionam à sociedade, como a conservação da vegetação nativa, a restauração de florestas degradadas, o sequestro de carbono e a proteção da biodiversidade, que beneficia a agricultura por meio da polinização.

Essencialmente, os proprietários de terras são pagos por um serviço que antes prestavam gratuitamente. O PSA fomenta, assim, a adoção de práticas de conservação e o cumprimento de leis ambientais. Desse modo, o mecanismo oferece incentivos financeiros para a recuperação dos ecossistemas.

Buscando desenvolver ainda mais essa política no Brasil, o projeto Agricultura Sem Queima na Amazônia, organizado por Sistema OCB, Embrapa e Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu (Camta), realizou uma missão na Costa Rica para pesquisar o modelo de PSA do país. Com mais de 1,3 milhão de hectares conservados e cerca de US$ 524 milhões investidos desde sua criação, o programa costarriquenho já beneficiou mais de 8,5 mil pequenos e médios produtores.

Desafios da agricultura regenerativa

Como vimos, a agricultura regenerativa traz diversos benefícios para o cooperativismo. A sua aplicação, porém, não é tão simples. Alguns obstáculos dificultam a manutenção desse modelo nas cooperativas.

O aprimoramento do conhecimento

Para construir uma produção agrícola regenerativa é preciso ter bagagem técnica, além de conhecimento biológico, físico e químico. Saber quais são as melhores técnicas de cultivo, que tipos de cultura podem ser plantadas no mesmo terreno e como fazer isso da melhor maneira possível é um desafio.

Para isso, é importante incentivar que os produtores cooperados e o corpo técnico da cooperativa estudem e adquiram conhecimento sobre meio ambiente e sustentabilidade. Apenas assim as cooperativas poderão se desenvolver de forma correta e eficiente.

Altos custos iniciais

Financeiramente também pode ser um desafio começar as práticas da agricultura regenerativa. É necessário um alto valor de investimento inicial e até que a atividade volte a ser lucrativa, é comum enfrentar um período de aperto econômico.

Nesse sentido, pequenas e médias cooperativas podem ter mais dificuldades. Incentivos financeiros podem ajudar nesse processo.

Falta de certificações

As certificações são processos formais que reconhecem a qualidade e o modelo de um produto. Selos de produção orgânica, por exemplo, já são muito utilizados e têm regras bem estabelecidas.

Por ser um mercado diferente do convencional em vários aspectos, as cooperativas que trabalham com agricultura regenerativa enfrentam dificuldades na hora da certificação. Esse método ainda é muito amplo e carece de padrões. Apesar disso, o aumento de práticas regenerativas pode impulsionar o debate no país e diminuir as barreiras que dificultam a certificação no mercado.

Tempo para obtenção de resultados

Um processo que prioriza a qualidade e a preservação dos recursos naturais precisa seguir um tempo diferente de produções movidas somente pela alta produtividade. A agricultura regenerativa requer paciência e não traz resultados imediatos. Os benefícios demoram um tempo para serem colhidos.

Agricultura regenerativa no cooperativismo

A agricultura regenerativa está alinhada aos pilares sociais e ambientais do cooperativismo. Protagonistas no agronegócio, as cooperativas encontram nesse modelo uma alternativa responsável e eficiente para fortalecer suas atividades no campo. Algumas cooperativas já se destacam por ações alinhadas à agricultura regenerativa:

Expocacer é a primeira coop do mundo a conquistar selo de agricultura regenerativa

A cooperativa cafeicultora Expocacer se tornou a primeira do mundo a receber o selo de certificação regenerativa concedido pela Regenagri – programa internacional de agricultura regenerativa que luta para garantir a saúde da terra. A cooperativa mineira comercializa mais de um milhão de sacas de café por ano.

São mais de cinco mil hectares de lavouras de café que usam técnicas de agricultura regenerativa, além da promoção de diversos programas que atendem à agenda ESG, como o projeto Elas no Café, um concurso dedicado à qualidade de cafés especiais produzidos por mulheres, e Jornada da Qualidade, iniciativa que visa avaliar produção de cafés de qualidade.

““Essa certificação nos dá a capacidade plena de atendimento a demanda do mercado, o que cria uma diferenciação positiva para os cooperados da Expocacer. O mercado está cada vez mais exigente e nós temos que atender e acompanhar o movimento em prol da sustentabilidade”, conta Farlla Gomes, coordenadora técnica em sustentabilidade da Expocacer

Cocamar põe em prática a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta

A paranaense Cocamar busca garantir a preservação ambiental dentro da sua produção por meio da metodologia de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), que garante a otimização do uso da terra.

Na Cocamar, o ILPF alterna entre o plantio de soja e a pastagem para a criação de gado, diminuindo a necessidade de desmatar novas áreas e aumentando a produtividade. A iniciativa surgiu em um contexto em que era necessário aumentar a produtividade em áreas degradadas que demandam um alto custo para a reforma convencional do solo.

Na prática, o ILPF funciona a partir da alternância metodológica entre plantio de soja e pastagem perene para a criação de gado. De início, o solo degradado passa por dois anos com lavouras de soja no verão e pastagens no inverno. Nesse cenário, a soja é responsável por fazer a correção química do solo, enquanto a pastagem atua para o enriquecimento físico e biológico da área.

Frimesa é referência na adoção de energia limpa

A Frimesa, uma das maiores marcas do agronegócio brasileiro, decidiu implementar uma política focada na redução do consumo de combustíveis fósseis, na autogeração de energia renovável e na diversificação de sua matriz energética.

Para isso, a cooperativa investiu em biodigestores, equipamentos utilizados para a decomposição anaeróbica de matéria orgânica, gerando biogás e biofertilizante. A estrutura visa promover a reciclagem de materiais e o melhor aproveitamento da energia usada pela cooperativa.

Com investimento em biodigestores, é possível promover a produção de biogás, biometano e CO². Esses equipamentos geram energia térmica que substituem o uso de gás liquefeito de petróleo (GLP). O plano da Frimesa é neutralizar suas emissões de gases em operações industriais até 2040.

Conclusão: cooperativismo e agricultura regenerativa se complementam

O cooperativismo e a agricultura regenerativa podem formar uma dupla de sucesso. No manifesto do cooperativismo brasileiro para a COP30, que vai acontecer em Belém, o Sistema OCB ressalta a importância de se unir e buscar um futuro mais próspero e sustentável.

Conheça o movimento Coop na COP, realizado pelo Sistema OCB, que buscará difundir o modelo cooperativista e posicionar as cooperativas como agentes essenciais para o alcance das metas climáticas globais.