Diante da globalização do mercado e das cadeias produtivas, a internacionalização desponta como uma grande oportunidade para as cooperativas agropecuárias brasileiras. Por meio da exportação, elas conseguem aumentar a receita, aprimorar a competitividade e seguir no caminho da perenização.

Quando expande sua atuação para outros países, o cooperativismo agropecuário também gera riqueza para seus cooperados e para a comunidade como um todo. Além disso, o comércio exterior representa uma fonte fundamental de investimentos, expansão de oportunidades de trabalho, melhora da qualidade dos bens produzidos e desenvolvimento da indústria local.

Em parceria com a ApexBrasil, o Sistema OCB apoia a internacionalização do cooperativismo agropecuário brasileiro. Neste artigo, veremos um panorama da exportação feita pelas cooperativas agropecuárias e conheceremos, com exemplos práticos, os caminhos para a internacionalização do setor. Aproveite a leitura!

Mercado internacional: celeiro de oportunidades para cooperativas agropecuárias

A internacionalização dos negócios pode acontecer de diversas formas, como:

  • Exportação: consiste na venda, direta ou indireta, de mercadorias para outros países e mercados.
  • Importação: é a compra de insumos ou tecnologias oriundas de outros países. Matérias-primas estrangeiras e aquisição de maquinários importados são alguns exemplos.
  • Franquia: cessão do direito de exploração da marca e comercialização do produto em outro país em troca de participação nos lucros ou royalties.
  • Joint ventures: associação entre duas organizações com um objetivo comum, permitindo a união com parceiros comerciais que já têm expertise no mercado internacional.
  • Investimento direto: abrir uma filial ou subsidiária no exterior, começando do zero. Precisa de altos investimentos.

Uma pesquisa da Fundação Dom Cabral revela que mais de 64% das organizações querem ampliar a presença no exterior. Ademais, a porcentagem daquelas que também pretendem começar a explorar novos mercados estrangeiros é de 68,9%. Ou seja: o mercado brasileiro está de olho na internacionalização. Diante disso, este artigo irá focar no primeiro item de internacionalização das cooperativas agropecuárias, a exportação.

Panorama da internacionalização do cooperativismo brasileiro

Em 2023, o agronegócio brasileiro exportou US$ 166,5 bilhões, aponta a Secretaria de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). Esse valor equivale a praticamente metade das exportações brasileiras no ano.

O estudo de Perfil das Firmas Exportadoras Brasileiras, elaborado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) em 2023, mostra que as organizações exportadoras são responsáveis diretas por cerca de 5,2 milhões de empregos com carteira assinada e pagam salários maiores para seus colaboradores.

O AnuárioCoop 2023, por sua vez, mostra que as cooperativas brasileiras exportaram mais de US$ 7 bilhões em 2022. No ano, o equivalente a 6,8% dos embarques do agronegócio foram oriundos das cooperativas agropecuárias no período. Assim sendo, os dados da ApexBrasil apontam que esses são os cinco principais produtos exportados por coops em valor total:

  • Carnes de aves: US$ 2,2 bilhões
  • Café não torrado: US$ 1,6 bilhão
  • Carne suína: US$ 841 milhões
  • Óleo de soja: US$ 755 milhões
  • Soja triturada: US$ 577 milhões

Levando em conta a taxa de participação das cooperativas agropecuárias no total das exportações, se destacam o toucinho suíno (86%), o suco de uva (63,3%) e miúdos suínos (51,3), em que o cooperativismo é responsável por mais da metade das vendas para o mercado externo.

Caminhos para a internacionalização das cooperativas agropecuárias

As cooperativas ainda têm um potencial de crescimento grande no mercado exterior a partir da internacionalização de seus negócios. Para construir uma jornada eficaz de ingresso no mercado internacional, algumas estratégias se mostram relevantes. Veja algumas delas – com direito a casos práticos de cooperativas que as implementaram com sucesso!

Foco na qualidade

Para ingressar no mercado internacional, a qualidade do produto precisa ser a grande prioridade das cooperativas agropecuárias. Muitos países estabelecem padrões e exigências para suas importações. Além disso, a concorrência nesse cenário é com produtores do mundo todo, o que torna a qualidade um diferencial competitivo ainda mais relevante.

A Aurora Coop se consolidou como uma cooperativa exportadora e mostra a importância da qualidade para a internacionalização no cooperativismo agropecuário. A cooperativa é muito forte no mercado de frangos e suínos, sobretudo dentro do mercado asiático, com destaque para Japão e China.

Para isso, a Aurora Coop investe pesado em controle de qualidade e acompanhamento técnico em seus processos de produção. Assim, a cooperativa consegue padronizar etapas desde o campo até as indústrias para alcançar um produto de excelência. A estratégia de expansão das exportações tem como base justamente o aprimoramento constante da qualidade.

Adaptação às demandas internacionais

Lidar com o mercado externo exige que as cooperativas estejam atentas às demandas específicas de diferentes países. No processo de internacionalização, portanto, as cooperativas precisam entender as preferências e necessidades dos consumidores, assim como fazer adaptações necessárias para atender a cultura do país comprador.

Além disso, cada país tem suas próprias regras, leis e regulamentações que precisam ser respeitadas pelas cooperativas exportadoras. Quem for exportar para os Estados Unidos, por exemplo, precisa respeitar as exigências impostas pela Food and Drug Administration (FDA).

A cooperativa baiana Coopaita, que faz sucesso com frutas in natura, ingressou no setor de frutas desidratadas para expandir seus negócios. Adaptar os processos produtivos foi desafiador, mas gerou resultados: a Coopaita não só se consolidou no mercado nacional, como também passou a exportar seus produtos.

Agregação de valor

Uma outra forma de uma cooperativa agropecuária se destacar em sua jornada de internacionalização é agregar valor a seus produtos. Em um ambiente de competitividade global acirrada, a agregação de valor faz a diferença, pois torna os produtos mais atrativos para o mercado.

Quem apostou nessa estratégia foi a mineira Coopfam, que exporta café para dez países. O mercado externo representa 85% do faturamento da cooperativa. Para chegar a esse ponto, a Coopfam apostou na certificação de seus cafés finos.

O selo FairTrade valoriza os cafés da Coopfam, podendo dobrar o valor deles em relação a cafés especiais sem certificação. A fim de obter essa agregação de valor, a cooperativa modernizou os processos de preparação e comercialização. Além disso, a renovação do selo demanda auditorias periódicas, o que impõe a necessidade constante de melhorias.

Intercooperação

Uma vez que a internacionalização pode ser um tanto desafiadora, as cooperativas podem unir forças e intercooperar para prosperar juntas. Dessa forma, é possível transformar a concorrência em parceria. A soma de expertises pode dar bons resultados no mercado internacional.

É isso que aconteceu com a Unium, que nasceu a partir da união entre Frísia, Castrolanda e Capal. Isoladas, as cooperativas contavam com recursos limitados para investimentos em pesquisa, novas tecnologias e desenvolvimento de mercado. A atuação conjunta, por sua vez, impulsionou os negócios de todas.

Mais forte do que cada cooperativa individualmente, a Unium conseguiu aumentar a atuação no mercado externo. Em 2020, a Unium chegou ao patamar de exportar um terço de toda sua produção para mais de 30 países. As exportações, aliás, foram fundamentais para manter a saúde financeira do negócio no período de pandemia.

Participação em feiras

Para as cooperativas agropecuárias que querem iniciar ou aumentar sua internacionalização, as feiras oferecem ótimas oportunidades para apresentar os produtos a potenciais compradores do mundo todo e fazer contatos com potenciais parceiros de negócios. No mais, elas são interessantes para acompanhar tendências mercadológicas, tecnológicas e de marketing.

Participar de feiras fez toda a diferença para a Comapi. A cooperativa piauiense é, hoje, uma das principais produtoras e exportadoras de mel in natura do país. Parte desse sucesso pode ser atribuído à participação em feiras, como a Bio Brazil Fair e a Biofach América Latina.

Segundo a cooperativa, participar de feiras não só gera uma melhora na venda dos produtos, mas também um aperfeiçoamento da imagem perante o mercado. Só em 2022, a Comapi participou de feiras internacionais na Alemanha e na Turquia, além de marcar presença em eventos sediados no Brasil que recebem público do mundo inteiro.

Sustentabilidade na internacionalização

A agenda ESG, que representa os pilares ambiental, social e de governança, está se tornando uma grande protagonista quando o assunto é internacionalização. No mundo todo, os consumidores estão cada vez mais conscientes sobre os impactos dos produtos que compram. Ser sustentável é, hoje, um grande diferencial competitivo.

Diante disso, ações ligadas à sustentabilidade podem impulsionar a exportação no cooperativismo tornando os produtos mais atrativos e fortalecendo a marca. Além disso, diversos países estão adotando regulamentações mais rígidas em relação às práticas ambientais e sociais.

Ou seja, ser ESG – e comprovar isso – é imperativo para entrar em determinados países. Na União Europeia, por exemplo, uma legislação de 2022 prevê que exportadores precisam provar que seus produtos, como soja, carne bovina e café, não estão ligados ao desmatamento em qualquer lugar do mundo. Sem isso, os produtos de uma cooperativa não entram nos países do bloco.

Por um lado, essas novas exigências aumentam as barreiras para a internacionalização das cooperativas agropecuárias. Por outro, entretanto, aquelas que têm iniciativas maduras de ESG conseguem ter mais oportunidades de negócios. Veja esses dois exemplos:

Cooxupé: ESG como diferencial competitivo

Credibilidade e sustentabilidade são os grandes trunfos da cooperativa mineira Cooxupé em sua atuação no mercado internacional. A exportação representa uma fatia importante nos negócios da Cooxupé, que tem expandido sua participação no mercado de cafés especiais e certificados de alta qualidade.

Ao todo, 80% das atividades da cooperativa correspondem às exportações para clientes de 50 países em cinco continentes. Em entrevista ao NegóciosCoop, o presidente Carlos Augusto Rodrigues de Melo conta que a sustentabilidade é um grande diferencial da cooperativa:

“Nosso café possui rastreabilidade. Ou seja, é um processo muito tranquilo para a cooperativa comprovar que o café que ela vende é produzido respeitando as boas práticas agrícolas e a sustentabilidade”, diz. Diante da demanda por produtos alinhados à agenda ESG, a Cooxupé desenvolveu seu próprio protocolo de sustentabilidade.

Cooperacre: inovação sustentável impulsiona internacionalização

A Cooperacre (Cooperativa Central de Comercialização Extrativista do Acre) tornou-se uma grande referência de produção sustentável na região amazônica. Maior produtora de castanhas-do-Brasil no país, a cooperativa atua com foco em proporcionar renda para os cooperados por meio de produtos de alta qualidade e sustentabilidade.

Com um portfólio construído em compatibilidade com a preservação ambiental, a Cooperacre promove uma indústria de baixo carbono e alta inclusão social. Esses fatores são importantes para a cooperativa em sua atuação de internacionalização.

Os produtos da Cooperacre já marcam presença em países como Estados Unidos, Emirados Árabes Unidos, Reino Unido, Holanda, Itália, Kuwait, Peru, Lituânia, Rússia e Chile.

Conclusão: rumo à internacionalização

As cooperativas agropecuárias ainda têm um enorme potencial de crescimento para o mercado internacional. Esse processo demanda tanto aprimoramento de processos quanto novas estratégias de promoção comercial.

Com uma rede de apoio, as chances de sucesso na internacionalização das cooperativas crescem significativamente. Assim sendo, o Sistema OCB age como um grande incentivador das exportações no cooperativismo por meio de soluções como o PEIEX Coop.

Desenvolvido em parceria com a Apex Brasil, o PEIEX Coop proporciona serviços como consultoria de comércio exterior e distribuição internacional às cooperativas. Para saber como participar, consulte a OCB do seu estado!