O ano de 2025 chega com muitas perspectivas econômicas importantes e desafiadoras. O país vive momento em que o equilíbrio das contas públicas é prioridade, e para isso implementa um pacote de corte de gastos – proposto pelo Executivo e alterado na Câmara e no Senado.

A apreensão sobre os gastos públicos gera um clima de incerteza em relação às perspectivas econômicas brasileiras, mesmo que o país venha de dois anos de crescimento acima das projeções das instituições financeiras nacionais. Nesse contexto, a tendência positiva será colocada à prova.

A macroeconomia sempre afeta o mundo dos negócios. Desse modo, 2025 promete ser um ano com desafios para o Brasil, e isso pode se refletir em desaceleração econômica. Entenda quais são as principais questões nacionais neste ano e saiba como sua cooperativa pode se preparar.

Juros elevados: o que significa?

Uma das histórias mais importantes da economia brasileira no fim de 2024 continuará a ser ponto de atenção em 2025. A Selic, a taxa básica de juros da economia nacional, foi elevada pelo Banco Central pela terceira vez consecutiva (chegando a 12,25%). A instituição indicou que deve aumentá-la ainda mais no futuro próximo.

Segundo a edição de 24 de janeiro do Boletim Focus, pesquisa promovida pelo Banco Central que afere as projeções de mais de 100 instituições          financeiras, o mercado prevê que a Selic feche 2025 em 15% ao ano. Se concretizado, este seria o maior valor desde 2006.

A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central pela sucessiva elevação da taxa Selic tem como objetivo manter a inflação brasileira sob controle, próxima da meta de 3%. O outro lado da moeda é que a alta na taxa de juros pode frear o crescimento da economia nacional.

A taxa básica de juros também exerce impacto sobre as dívidas governamentais. Segundo cálculo do Banco Central, a cada ponto percentual que a Selic cresce, a dívida líquida do setor público sobe em R$ 55,2 bilhões.

Impacto sobre o cooperativismo de crédito

A elevação da taxa básica de juros é utilizada por autoridades econômicas para controlar a inflação. A lógica por trás disso é que os juros mais altos encarecem o custo de se tomar empréstimos, desestimulando a atividade e controlando preços na economia como um todo.

Se menos empréstimos forem concedidos devido às condições pouco favoráveis, isso significa um problema para o cooperativismo de crédito. As operações de crédito correspondem a 54% dos ativos totais do setor – segundo os dados mais recentes, relativos a 2023. Assim sendo, elas representam uma razão importante para o crescimento em ritmo superior ao restante do Sistema Financeiro Nacional.

O cooperativismo já tem como marca ser mais flexível que as instituições financeiras tradicionais nas concessões de crédito. O risco de inadimplência está se materializando, e o índice de ativos problemáticos apresentou curva ascendente entre 2021 e 2023, chegando a 5,9%. A elevação na taxa básica de juros aumenta ainda mais este risco.

Busca por inflação controlada

Indicador econômico palpável na vida e no bolso de qualquer brasileiro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechou 2024 em 4,83%, acima dos 4,5% estabelecidos como teto da meta governamental.

A partir deste ano, o cálculo da inflação será feito a partir de uma meta contínua. Ou seja, ao fim de cada mês a inflação acumulada em 12 meses será avaliada em relação à meta – que segue de 3%, com margem de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Se o IPCA permanecer fora do intervalo de tolerância por seis meses consecutivos, a meta será considerada descumprida, e o Banco Central terá de se explicar publicamente.

O mercado nacional demonstra pessimismo em relação à capacidade de controle sob a inflação. As projeções do Boletim Focus sobre o IPCA aumentaram em 14 semanas consecutivas. Na edição de 24 de janeiro, as instituições financeiras preveem que o índice fechará 2025 em 5,50%. O número é ainda maior que o registrado em 2024, e 1,0 ponto percentual acima do teto da meta.

Entretanto, as projeções das instituições financeiras nem sempre são perfeitamente adequadas à realidade. Os bancos entraram em 2024 prevendo que o IPCA permaneceria dentro da meta, em 4,47% – o que não aconteceu. E para 2023 o prognóstico era pessimista – 5,62% –, mas este foi o único ano de 2021 em diante no qual a meta foi cumprida.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) é menos pessimista que o mercado financeiro nacional em relação às projeções da inflação brasileira. A instituição prevê que a variação nos preços de consumo será de 3,6% em 2025.

Pressão sobre os preços

A inflação é um indicador econômico de impacto fácil de visualizar no dia a dia. Afinal, ela impacta os preços de tudo que você irá consumir, incluindo itens essenciais como alimentos e bebidas. Quanto mais o IPCA cresce, menor é o poder de compra da população, tendo em vista que os aumentos salariais não acompanham o custo de vida.

Se a inflação seguir as projeções do mercado financeiro e permanecer acima da meta, isso se refletirá em problemas para negócios de diferentes setores. Nesse cenário, as cooperativas terão de lidar com a alta nos custos operacionais, o que pressiona os preços de comercialização.

Dólar manterá disparada?

Outra história da economia brasileira teve capítulos importantes no final de 2024: a desvalorização cambial do real em relação ao dólar. Após o Governo anunciar seu pacote de corte de gastos em novembro do ano passado, a moeda norte-americana disparou e atingiu o patamar de R$ 6 pela primeira vez na história.

As projeções de mercado indicam que a alta histórica verificada no fim de 2024 não será um período de exceção, e sim algo próximo do ‘novo normal’. O Boletim Focus prevê que o dólar fechará 2025 no mesmo patamar de R$ 6, e que este número deve permanecer estável em 2026.

A desvalorização do real em relação à moeda norte-americana acelerou devido à reação do mercado ao pacote brasileiro de corte de gastos. Também há fatores externos, como a expectativa sobre a postura do recém-empossado presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Ele promete uma política protecionista e a elevação às tarifas de importação, o que tem potencial de fortalecer o dólar.

O grau dessas medidas, entretanto, ainda é incerto. Trump não incorporou as tarifas de importação ao seu primeiro pacote de ordens executivas, prometendo implementá-las somente em fevereiro. O discurso inicial era que produtos chineses seriam taxados em 60%. Porém, após a posse, o presidente norte-americano já falou em tarifa de 10%.

Como o dólar impacta a economia brasileira

Dólar, inflação e juros são três indicadores econômicos que estão altamente correlacionados. A alta da moeda norte-americana afeta diretamente os valores de importação, e, consequentemente, pressiona os custos de produção. No futuro, isso se refletirá em alta nos preços de comercialização, elevando o IPCA. A resposta do Banco Central nesses casos costuma ser a elevação da taxa de juros. É exatamente neste ciclo que o Brasil pode estar em 2025.

Algumas cooperativas, todavia, podem se beneficiar com a desvalorização cambial. Esta tendência resulta no crescimento do preço das commodities, gerando possibilidade de maiores ganhos no ramo agropecuário com exportação, por exemplo. O problema é que os altos valores também se refletem no mercado nacional.

O momento de alta do dólar reforça a necessidade de as cooperativas adotarem medidas de hedge cambial em transações internacionais. O hedge é um instrumento para minimizar riscos, no qual o valor de um ativo – nesse caso, o dólar – é fixado. Ele pode ser aplicado em contratos de compra e venda e no investimento em fundos cambiais.

Brasil com números de empregabilidade históricos

Em contrapartida às preocupações com inflação, juros e dólar, a economia brasileira carrega indicadores fortes e positivos para sua população. O principal deles é a empregabilidade. Segundo os dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), relativos ao trimestre entre setembro e novembro de 2024, a taxa de desocupação é de 6,1%, o menor número desde o início da série histórica, em 2012.

A redução na taxa de desemprego, que chegou a 14,9% durante a pandemia de Covid-19, sinaliza uma recuperação da economia brasileira. Se grande parcela da população continuar empregada, o consumo tende a se manter estável – o que é um alento em meio às incertezas econômicas que pairam sobre 2025.

Apesar de benéfica à população, a redução na taxa de desocupação pode gerar pressão sobre a economia. O aumento na demanda por bens e serviços tende a elevar os preços, o que culmina em crescimento na inflação. Assim sendo, o Banco Central intervém através da taxa básica de juros, freando o progresso econômico atual em prol de maior estabilidade no futuro.

O PIB pode superar expectativas de novo?

Influenciado por todos esses fatores já abordados, o resultado da atividade econômica nacional culmina em um número: o Produto Interno Bruto, o famoso PIB. Os números completos sobre o ano de 2024 só serão divulgados em março, mas os resultados prévios mostram que a economia brasileira rendeu acima do esperado no período.

O PIB brasileiro cresceu 3,3% nos três primeiros trimestres de 2024 em comparação ao mesmo recorte de 2023. O Fundo Monetário Internacional projeta que a variação positiva do ano completo será de 3,7%. Entre janeiro e setembro, a evolução econômica foi impulsionada pelos setores de Indústria (3,5%) e Serviços (3,8%).

A valorização do PIB nacional ocorreu apesar da desconfiança das instituições financeiras. O segundo Relatório Focus de 2024 previa crescimento de apenas 1,59% ao longo do ano, menos da metade do valor registrado em três trimestres. O Brasil também superou as expectativas do mercado em 2023, registrando variação de 3,2% no PIB, contra projeção de 0,78%.

Projeções do PIB para 2025

Casos recentes mostram que as projeções econômicas nem sempre são altamente precisas e condizentes com a realidade, mas elas são importantes para medir o nível de confiança de mercados nacionais e internacionais sobre a economia brasileira. O clima para 2025 não é dos mais otimistas: a expectativa é de desaceleração econômica.

Na edição de 24 de janeiro, o Relatório Focus projeta que o PIB crescerá 2,06% – a previsão vem crescendo em ritmo tímido durante o início deste ano. Já o FMI tem expectativas similares e projeta alta de 2,2%. Se o produto nacional estiver neste patamar ao final de 2025, será a menor variação positiva desde 2020.

Apesar do cenário de incertezas, espera-se que a agropecuária volte a crescer em 2025 e diminua o ritmo da retração geral. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) projeta safra recorde em 2024/25, com produção de 322,47 milhões de toneladas. Já a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), por sua vez, espera aumento de até 5% no PIB do agronegócio.

Como se preparar diante das perspectivas econômicas para 2025

As dúvidas acerca dos principais elementos da macroeconomia brasileira indicam que 2025 será um ano desafiador. O crescimento dos últimos anos será posto à prova, assim como a capacidade governamental de equilibrar as contas públicas enquanto promove o desenvolvimento socioeconômico.

Não se espera que os problemas alcancem o status de uma crise econômica, mas a desaceleração parece iminente. As cooperativas, portanto, precisam estar prontas para esse cenário.

Monitorar a Selic pode ajudar a economizar. Avalie se as alterações na taxa básica de juros impactam as dívidas já contraídas e planeje-se para cumprir com as novas pendências. Acompanhe o noticiário sobre as reuniões do Copom, e utilize as informações disponíveis para realizar operações de crédito no momento mais apropriado.

Em momentos de recessão, gerenciar recursos de maneira inteligente torna-se ainda mais importante. Se a sua cooperativa ainda não se beneficia de análises de dados, aproveite para mudar isso em 2025. Implementar uma cultura data driven demanda recursos, mas os gastos se converterão em resultados com o passar do tempo. A organização terá informações concretas para identificar desperdícios, aprimorar processos e tomar decisões assertivas.

Ano de inovação

Outro ponto essencial para nunca perder de vista, principalmente em contextos adversos, é que inovar é um caminho sustentável para obter resultados. Não encare a inovação como uma prática secundária, que deixa de receber recursos em momentos de austeridade.

Quando a demanda por produtos ou serviços cai devido ao contexto macroeconômico, quem se destaca são as organizações que oferecem algo diferente. Inovar te prepara para o futuro e cria vantagens competitivas essenciais em tempos de crise.

Mas não se esqueça de inovar com propósito e conhecimento do mercado. Os passos devem ser muito bem avaliados em momentos de instabilidade. Ao planejar a gestão de riscos da sua cooperativa, analise o contexto macroeconômico. Entenda se este é o momento adequado para executar suas estratégias e fique atento às janelas de oportunidades.

Conclusão: de olho nas perspectivas econômicas

O ano de 2025 será desafiador para a macroeconomia brasileira. A conexão entre inflação, juros e dólar alto pode culminar em desaceleração do crescimento nacional. Diante desse cenário, é essencial que sua cooperativa se prepare para lidar com as adversidades externas.

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