Administrar os negócios é uma tarefa que exige capacidade para lidar com problemas, mesmo aqueles externos à organização. Em um dia, a situação no mercado pode estar sob controle. No outro, um evento de impacto global pode mudar tudo. Nesse cenário, a geopolítica afeta diretamente os negócios.

Relações instáveis entre países, medidas governamentais repentinas e até mesmo guerras provocam cenários de instabilidade geopolítica ao redor do mundo. Além do ponto de vista humanitário, esse contexto desafiador causa impactos negativos sob o prisma do mercado.

A instabilidade geopolítica pode afetar diretamente atividades econômicas e dificultar operações previamente estabelecidas. Entretanto, como em toda situação, é possível se preparar e mirar oportunidades.

Um líder sempre deve ser ágil e resiliente, e essas qualidades são ainda mais essenciais ao se tratar de instabilidade geopolítica. Saiba como executivos devem se comportar e elaborar planos de ação ao lidar com guerras e outras adversidades de ordem geopolítica.

Complexidade geopolítica do mundo atual

Em outros momentos históricos, era mais fácil detectar a grande potência do planeta ou um núcleo restrito de nações com alto poder de influência. Não que a ordem geopolítica mundial seja perfeitamente equilibrada atualmente. Os Estados Unidos seguem com a maior economia do mundo e esbanjam poderio financeiro, militar e cultural. Entretanto, eles não ditam sozinhos os rumos do planeta.

A ascensão econômica da China é um exemplo disso. Resultado de estratégias internas de modernização e capacitação da mão-de-obra e de aberturas na política externa ao longo dos anos, o país se consolida como a segunda maior economia do mundo atualmente, tornando-se cada vez mais um personagem ativo no cenário internacional.

Outros candidatos a protagonistas também mostram sua relevância geopolítica. A União Europeia é uma grande potência econômica ao reunir nações do Velho Continente. A Rússia historicamente é uma nação influente e de alto poderio militar.

Economias emergentes, como Brasil e Índia, fortalecem-se através de blocos e tornam-se potências regionais. E o multilateralismo se faz presente através do G20, que precisa de consensos para elaborar medidas econômicas, sociais e ambientais benéficas ao planeta.

A relação entre as grandes potências nem sempre é harmônica. A rivalidade entre os gigantes econômicos, EUA e China, é uma realidade e promete aumentar. O novo presidente eleito norte-americano Donald Trump declarou que deseja, como uma de suas primeiras medidas à frente da Casa Branca, taxar os produtos chineses em 10% além das tarifas alfandegárias já existentes, algo que levanta a possibilidade de uma ‘guerra comercial’ entre dois dos países do G20.

Guerras em curso

Alguns atritos escalam para além da diplomacia e se tornam conflitos armados. Diversas guerras, que vitimaram ao menos 33 mil civis em 2023 segundo a ONU, estão em curso. Países como Sudão e Mianmar sofrem com guerras civis, mas dois duelos chamam atenção especial da comunidade internacional: Rússia contra Ucrânia e Israel contra Hamas, Hezbollah e Irã.

A tensão entre as nações europeias se acirrou em 2022, após a Rússia invadir parte do território ucraniano. Já os conflitos no Oriente Médio avançaram em 2023, inicialmente entre Israel e o grupo Hamas, posteriormente afetando outros núcleos e regiões. Crimes de guerra foram registrados nas duas batalhas, mas a comunidade internacional e a ONU pouco conseguiram fazer até o momento para mitigar os danos.

Negócios: impactos do risco geopolítico

Além de afetar a vida e a rotina das pessoas, o risco geopolítico invariavelmente provoca impactos na economia, por vezes em escala mundial. O mercado se vê forçado a lidar com o contexto desafiador.

Eventos como guerras mexem com a inflação no planeta. O conflito entre Rússia e Ucrânia, por exemplo, foi um dos fatores para a inflação global aumentar 4,5 pontos percentuais em 2022, atingindo o maior nível desde a crise de 2008.

Parte do impacto econômico dessa guerra se deve a outro efeito colateral da instabilidade geopolítica: os problemas na cadeia de suprimentos. A dificuldade de acesso a matérias-primas e o bloqueio em rotas de transporte mostram como um conflito pode afetar a economia internacional. No caso de Rússia e Ucrânia, esses países cumpriam papel importante para o abastecimento energético e alimentício na Europa.

Contextos de instabilidade geopolítica também podem forçar sua organização a buscar novos mercados. Determinados países podem se tornar inacessíveis por conta de queda de demanda, problemas de transporte ou sanções internacionais em casos de guerra. Isso pode ser observado na prática, com queda significativa nas importações na Rússia e na Ucrânia em 2022, e em Israel e na Palestina em 2023, coincidindo com o período da escalada de conflitos armados.

Inovações ameaçadas

O risco geopolítico afeta as atividades e as ambições de uma empresa ou cooperativa. Incertezas no contexto externo invadem o ambiente interno, especialmente no setor de inovações. O desenvolvimento de inovações revolucionárias, aquelas com novas tecnologias, é brecado em detrimento de iniciativas incrementais. Isso, afinal, se deve ao receio de tomar riscos em meio à instabilidade no mercado.

O desejo por segurança também afeta o comportamento dos investidores. Em momentos de crise, eles tendem a procurar o dólar, visto como um “porto seguro” devido à economia forte e diversificada dos EUA. Dessa forma, a moeda se valoriza, impactando não somente os norte-americanos como o resto do planeta.

Enquanto o dólar passa a receber maior aporte, os investimentos em inovação se retraem. As organizações priorizam formas de se manter estáveis ao invés de alocar recursos aos setores de pesquisa e desenvolvimento, acarretando diminuição de pessoal.

Como executivos podem demonstrar resiliência perante instabilidades geopolíticas

A instabilidade geopolítica é um cenário adverso do qual uma organização não pode escapar sozinha. Entretanto, é possível lidar com a situação, mitigar impactos negativos e buscar oportunidades. Nesse contexto, as lideranças executivas têm papel fundamental.

Os líderes precisam ser ágeis, prontos para lidar com as mudanças abruptas impostas pelo contexto geopolítico. Essa tarefa é mais fácil se o executivo se destacar na visão estratégica, sendo capaz de analisar e antever cenários de risco. Além das medidas imediatas, também é essencial elaborar estratégias a longo prazo.

A prática que pode ajudar organizações é elaborar um plano de ação com diferentes cenários de olho em mercados problemáticos e, dessa forma, mapear possível risco geopolítico. Essa questão deve ser visitada com frequência, e as lideranças precisam ter rotas planejadas para o momento em que uma crise explode.

Perfil de liderança

Um traço pessoal que ajuda executivos a superarem momentos adversos é a resiliência. Com capacidade de recuperação ao enfrentar dificuldades, líderes conseguem manter calma e clareza para tomar decisões racionais, identificar soluções para suprir perdas financeiras e manter a equipe motivada e engajada.

Aspectos geopolíticos também podem demandar trabalho de reputação. Organizações são cada vez mais cobradas por posicionamentos públicos em questões relevantes à atividade econômica e aos stakeholders. Ziad Haider, diretor de risco geopolítico da McKinsey, identifica três tipos de posicionamento:

  • Coragem: defende um ideal mesmo acarretando em custos adicionais.
  • Necessidade: quando a organização é obrigada a opinar.
  • Humildade: em situações em que há um erro e a retratação é necessária.

Posicionamentos públicos precisam ser bem planejados e levar em consideração as opiniões dos parceiros estratégicos. Declarações sobre um mercado problemático chegam rapidamente a outros polos de interesse e ao próprio mercado.

Cooperar para se adaptar

Lidar com os efeitos práticos da instabilidade geopolítica é uma constante busca por soluções rápidas e criativas. Uma medida altamente efetiva, especialmente para lidar com interrupções na cadeia de suprimentos, é a colaboração entre organizações. Ao compartilhar informações, as empresas facilitam o trabalho umas das outras e ajudam a estabelecer rotas alternativas.

Nesse campo, o cooperativismo sai na frente. Este modelo de negócio tem a intercooperação como um de seus princípios fundamentais, pregando pelo fortalecimento do movimento como um todo. Os projetos conjuntos e a troca de informações entre lideranças são pilares em meio à instabilidade.

Pensando o risco geopolítico fora dos momentos de crise

Como demonstrado neste texto, o risco geopolítico pode virar de cabeça para baixo a rotina de uma organização. Se a pauta é tão importante e se os líderes possuem papel essencial em sua abordagem, então ela deve ser tratada como prioridade mesmo em momentos de aparente estabilidade. Monitorar mercados problemáticos e montar planos de ação precisa ser uma prática frequente.

Visando minimizar os impactos que guerras ou restrições financeiras possam causar a um país ou região, o trabalho para diversificar os mercados de atuação é essencial. Ter arrecadação altamente dependente de uma ou poucas fontes é uma característica que pode fazer sua cooperativa suscetível a instabilidades geopolíticas.

Contar com uma operação diversificada e ágil certamente fica mais fácil quando a organização possui infraestrutura moderna e cultura de inovação. Soluções em gestão das cadeias de suprimentos, automação de processos e monitoramento com uso de IA são alguns campos nos quais sua cooperativa pode investir para se tornar mais resiliente e capaz de analisar riscos com eficiência.

Oportunidade para ajudar o planeta

Já vimos que a instabilidade geopolítica impacta a inflação e pode provocar aumento de preços por todo o planeta. Nota-se esses efeitos em mercados de alta volatilidade, como o de petróleo. Problemas em grandes produtores causam alta no preço dos barris, impactando o custo de combustíveis e do setor energético como um todo.

Esse é mais um motivo para que sua cooperativa adote uma matriz energética diversificada e renovável. Investir em usinas que geram eletricidade através de fontes renováveis e planejar o uso inteligente de combustíveis são formas de a organização se proteger perante mercados voláteis.

Impactos nos negócios de guerras em curso

Os conflitos destacados anteriormente de Rússia contra Ucrânia e de Israel contra Hamas, Hezbollah e Irã provocam efeitos particulares na economia mundial. Confira detalhes.

Guerra Rússia-Ucrânia

O já mencionado impacto profundo na cadeia de suprimentos global se refletiu em problemas na produção e no transporte de bens essenciais, impulsionando a inflação na Europa e em todo o planeta.

A alta nos preços das commodities representou uma oportunidade ao Brasil, que viu a demanda por produtos como a soja crescer, para elevar suas exportações. Entretanto, a variação também provoca aumento nos preços dos alimentos, um impacto negativo para a população.

Houve ainda um movimento de mercado de empresas do Ocidente em encerrar suas atividades na Rússia. Segundo levantamento do Yale Chief Executive Leadership Institute, mais de mil corporações anunciaram publicamente que reduziriam operações no país após a invasão à Ucrânia. As organizações abriram mão de um mercado lucrativo como forma de demarcar sua reputação institucional.

Guerra no Oriente Médio

A tensão no Oriente Médio escalou em outubro de 2023, após o atentado do grupo Hamas e a resposta de Israel com a invasão à Faixa de Gaza. Ao longo de 2024, o Hezbollah, organização libanesa, tornou-se parte do conflito, e os israelenses trocaram ataques com o Irã.

Economicamente, a guerra no Oriente Médio impacta o resto do planeta através dos preços do barril de petróleo. O Irã é o sétimo maior produtor do combustível fóssil no planeta. Entre momentos de tensão e promessas de ataques cada vez mais poderosos, o mercado acompanha o noticiário de perto e os valores se elevam, mesmo que somente por alguns dias.

A variação do petróleo pode representar uma oportunidade ao Brasil, que está entre os 10 principais exportadores do mundo. Entretanto, uma alta consistente afetaria diretamente os consumidores. Os custos elevados no preço da gasolina implicariam em gastos maiores no transporte, na produção e no valor final de bens de consumo.

Conclusão

Os impactos de instabilidades geopolíticas são vastos, e somente as cooperativas competitivas conseguem lidar com tais questões. Para avançar nessa direção, leia o e-book “Competitividade: como tornar sua cooperativa mais competitiva”, produzido pelo NegóciosCoop. O texto mostra como plano estratégico, gestão de dados, certificações e inovação contribuem para instaurar a competitividade.