Sobre o case

Ficha técnica

  • Nome da cooperativa: Centcoop (Central de Cooperativas de Trabalho de Materiais Recicláveis do Distrito Federal).
  • Ramo: Trabalho
  • Produtos: Coleta de material reciclável
  • Localização: Distrito Federal
  • Breve histórico: Fundada oficialmente em 2006, a Centcoop congrega 21 cooperativas e associações de catadores de materiais recicláveis, somando mais de mil cooperados.
  • Resumo: Por meio da intercooperação, a Centcoop conquistou recursos para a construção de um galpão próprio e conseguiu novos contratos para realizar a coleta seletiva no Distrito Federal com melhores condições para os trabalhadores.

Contexto

A Centcoop (Central de Cooperativas de Trabalho de Materiais Recicláveis do Distrito Federal) foi idealizada em 2002, a partir do Fórum Lixo e Cidadania do DF, com objetivo de fortalecer a classe de catadores, promovendo melhores condições de trabalho e infraestrutura.

A oficialização da entidade ocorreu em 2006, como uma cooperativa de segundo grau, composta pelas coops Fundamental, Cortrap, 100 Dimensão e Superação. Assim, a Centcoop atua para promover trabalho e renda aos catadores de materiais recicláveis e agregar valor no material produzido por eles.

Atualmente, a Centcoop congrega 21 cooperativas e associações de catadores de materiais recicláveis que somam mais de mil cooperados. O papel da organização, com isso, é realizar a comercialização conjunta dos materiais que as cooperativas recuperam da coleta seletiva por empresas ou pelas próprias cooperativas associadas.

Desafios

Por muito tempo, as cooperativas da região atuaram sem a estrutura adequada, explica Aline Sousa, diretora-presidente da Centcoop. Até 2009, “a gente estava com o lixão a todo vapor, e a maioria de nossas cooperativas estavam localizadas nesse lixão”. Um dos principais objetivos da entidade é promover melhoria estrutural para a categoria.

Dessa forma, um dos desafios mais importantes da Centcoop é manter a própria infraestrutura através apenas da comercialização dos produtos recicláveis de forma autossustentável. O mercado opera com volumes altos, mas com receitas baixas e custos elevados de manutenção e operação.

Um outro desafio pontuado pela Aline diz respeito ao convencimento dos catadores para que eles façam parte das cooperativas e saiam da informalidade:

“Estamos tentando buscar políticas para fortalecer esse segmento, porque acreditamos que o cooperativismo é o melhor modelo. Nele, todos conseguem conviver e têm um mesmo interesse comum, com autonomia e participação coletiva”.

Ademais, a coleta também envolve uma questão de saúde pública e dos próprios trabalhadores. Os resíduos são contaminados e falta investimento e orientação para a sociedade, alerta Aline. “Então, vemos uma pressão muito grande para que as cooperativas dêem conta do recado, mas do outro lado há pouco investimento para campanhas educativas”.

Soluções

“A gente inaugurou um escritório de gerenciamento de contratos, então eu tenho um escritório dentro da rede que apoia na prestação de conta padronizada do contrato de triagem seletiva e também o gerenciamento da logística reversa”, conta a dirigente.

Com isso, a Centcoop ajuda as cooperativas na conquista de melhores contratos. Além disso, a intercooperação é uma grande força da Centcoop no apoio às cooperativas de reciclagem.

“Nós buscamos parcerias de fortalecimento e intercooperação, e o Sistema OCB é um dos grandes parceiros. Muitas vezes, os catadores estão com dificuldade na gestão. Se a gente for cooperativa, podemos acionar o sistema de aprendizagem que vai nos trazer a qualificação necessária para sanar essa dificuldade”.

Em tempos de atenção com a Agenda ESG, as cooperativas que atuam em coleta seletiva e reciclagem também cumprem um papel importante, tanto na sustentabilidade ambiental quanto para a inclusão social dos cooperados.

Nesse sentido, Aline ressalta o papel da Centcoop e dos catadores no combate às mudanças climáticas. “O trabalho de nós, catadores, minimiza as respostas desse impacto, porque nossa atuação é de recuperação do passivo”.

Desenvolvimento

Em 2009, a Centcoop pleiteou, com sucesso, um terreno junto à Secretaria de Patrimônio da União (SPU), para construir um galpão com melhores condições para os catadores. O uso foi cedido por 20 anos, prorrogáveis por mais 20.

No ano seguinte, com apoio do Governo do Distrito Federal, a Centcoop entrou em contato com o BNDES na busca de recursos para construir os galpões. O processo, previsto para a Copa de 2014, acabou levando dez anos para ficar pronto.

“Por volta de 2016 a gente conseguiu a primeira conquista nas tratativas para o encerramento do lixão e as primeiras contratações das cooperativas para fazer a coleta seletiva de porta em porta”, narra Aline. Em 2017, foi firmado o primeiro contrato de triagem e venda dos materiais coletados.

Com o fechamento do lixão, as cooperativas migraram para galpões alugados. Doações de equipamentos também apoiaram o crescimento da Centcoop. As obras do Complexo Integrado de Reciclagem, que abriga as operações das cooperativas atualmente, só foram iniciadas em 2019. “Hoje, estamos nessa transição, do galpão alugado para o permanente”.

Logística Reversa

A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) preconiza a implementação de programas de logística reversa por fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes. Os catadores são atores fundamentais nos programas de logística reversa, que podem ser instituídos de três formas distintas: regulação do poder público, acordos setoriais e termos de compromisso. Desde 2002 foram estabelecidos diversos sistemas de logística reversa: defensivos agrícolas, seus resíduos e embalagens (2002); óleo lubrificante, contaminado ou usado (2005); pilhas e baterias (2008); pneus inservíveis (2009); embalagens em geral (2015); lâmpadas fluorescentes (2015); eletroeletrônicos e seus componentes (2016); e embalagens de aço (2018), entre outros.

Grande parte dos programas de logística envolvem os catadores e suas organizações na coleta e processamento dos resíduos, que posteriormente são reutilizados em novos processos de fabricação. Assim, os programas permitem ampliar a possibilidade de inserção mercadológica e de ganho dos catadores. Além disso, alguns dos programas atuam no sentido de contribuir para estruturação das cooperativas, ofertando capacitação, assistência técnica e infraestrutura (predial, maquinários, equipamentos e veículos). São os chamados modelos estruturantes.

A Centcoop integra três programas de logística reversa:

“Nós centralizamos a gestão da logística reversa na rede porque a gente viu como uma ferramenta de fortalecer a comercialização conjunta, porque você traz uma padronização de informações, negociação e poder de barganha”, explica a dirigente.

Para buscar novos negócios, em 2021 a Centcoop mapeou oito cidades na região do Distrito Federal sem coleta seletiva porta a porta. “A gente trabalhou um ano nessas cidades com a população local, com administração, com a SLU (Serviço de Limpeza Urbana) e pleiteamos o recurso de curso de contratação dessas cidades com o governo, que alocou o recurso”.

Resultados

O primeiro contrato de coleta seletiva pelas cooperativas da Centcoop durou cinco anos e desde o início apresentou grandes resultados: “elas mostraram uma eficiência de 87% trazendo respaldo para novas contratações de mais cooperativas”, conta Aline.

Hoje, o complexo é utilizado por onze cooperativas e 460 catadores – outras dez cooperativas associadas atuam em áreas externas. Para isso, ele opera em dois turnos. No futuro, as instalações irão contar com uma planta de beneficiamento de plástico e vidro, revela Aline.

Em relação aos catadores, a Centcoop conseguiu incluir a seguridade social dos trabalhadores no contrato com o Governo do Estado, concedendo melhores condições trabalhistas para os profissionais.

O reconhecimento à importância dos catadores para a sociedade foi representado por Aline Sousa. A diretora-presidente do Centcoop foi a responsável por entregar a faixa presidencial na posse do presidente Lula, colocando as cooperativas de catadores e o papel social e ambiental que elas cumprem em evidência.

Aprendizados

  • A intercooperação é uma ferramenta valiosa na busca por uma melhor infraestrutura.
  • O cooperativismo é um meio eficaz de proporcionar melhores condições de trabalho.
  • As cooperativas de catadores cumprem um papel fundamental para a sustentabilidade e a inclusão social.
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