A 27ª Conferência do Clima das Nações Unidas – COP27 – reúne líderes globais entre os dias 6 e 18 de novembro. Neste ano, o evento está sendo realizado no Egito e levanta discussões sobre os temas que mais preocupam sobre o futuro ambiental do planeta e seus impactos para a sociedade e a economia.

António Guterres, secretário-geral da ONU, destaca que a COP27 visa alcançar soluções climáticas capazes de responder à altura a escalada dos problemas ambientais. Além disso, a atual edição do evento leva em consideração o contexto da guerra na Ucrânia e seus impactos para a questão energética.

No mais, a programação da COP27 irá abordar assuntos em destaque, como:

  • De que forma os países estão reduzindo suas emissões de poluentes.
  • Como os países se adaptam às mudanças climáticas e, assim, de que forma podem se ajudar.
  • De que maneira é viável financiar o enfrentamento à deterioração climática e ambiental.

Sobre a conferência do clima

As COPs são as conferências climáticas mais importantes, reunindo lideranças globais políticas e civis a fim de promover discussões e encontrar soluções para a saúde do planeta. O ponto de partida foi a ECO-92, realizada em 1992, no Rio de Janeiro. Na ocasião, aliás, o Secretariado de Mudanças Climáticas da ONU foi criado.

Diante dos resultados proporcionados pelo encontro, a ONU passou a realizar conferências anuais a partir de 1994. Em 2022, está acontecendo a 27ª edição do encontro – a COP27.

Diversos documentos e tratados climáticos importantes foram desenvolvidos e compromissos foram firmados por muitos atores centrais da geopolítica mundial. O Protocolo de Kyoto, produzido durante a COP3 em 1997, e o Acordo de Paris, adotado em 2015 durante a COP21, por exemplo, guiam os esforços para limitar o aquecimento global e seus efeitos.

De acordo com a importância da COP27, portanto, confira alguns dos principais assuntos em voga que estão sendo tratados no encontro e o que esperar da Conferência. Aproveite a leitura!

A importância da política ambiental

Um dos focos da COP27 está em estimular a vontade política em prol de uma atuação efetiva diante das alterações climáticas. Para isso, a conferência visa propor um pacto a fim de que os países desenvolvidos cumpram seus compromissos assumidos no Acordo de Paris e diminuam suas emissões.

O Pacto de Solidariedade Climática proposto por Guterres implica no desenvolvimento de políticas ambientais com o objetivo de limitar, nesta década, o aquecimento global a 1,5ºC acima das temperaturas pré-industriais. Emmanuel Macron, presidente da França, cobrou que países ricos fora da Europa ajudem as nações mais pobres no enfrentamento às mudanças climáticas.

Nesse contexto, o desenvolvimento de políticas ambientais deve levar em conta os impactos globais climáticos a partir das realidades internas de cada país.

Além disso, essas iniciativas precisam incluir todos os setores da sociedade: governos, cooperativas, empresas mercantis, sociedade civil organizada e indivíduos. O incentivo institucionalizado à agenda ESG, por exemplo, é uma maneira de integrar diversos atores em prol da política ambiental.

Mudanças climáticas

No primeiro dia de conferência, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) publicou um documento que revela a força da transformação climática. Os dados revelados apontam que os últimos oito anos podem ter sido os mais quentes já registrados.

A agência meteorológica da ONU explica que o período entre 2015 e 2018 registrou altas temperaturas e níveis recorde de concentração de gases causadores do efeito estufa. O estudo ainda prevê mais um aumento de temperatura em 2022. Assim, Petteri Taalas, diretor da OMM, alerta para os efeitos dessa tendência:

“Quanto maior o aquecimento, piores os impactos. Temos níveis tão altos de dióxido de carbono na atmosfera agora que o 1,5°C do Acordo de Paris mal está ao nosso alcance”.

Combate à crise climática passa pelo social

Conforme destaca o Programa Mundial de Alimentos (PMA), a crise climática é responsável por deixar cada vez mais pessoas à beira da fome. Isso ocorre devido às ondas de calor, secas, inundações e tempestades que são agravadas pelas mudanças no clima. Diante disso, o PMA faz três recomendações para os líderes presentes na COP27:

  1. Ampliar a adaptação climática e as soluções para evitar, minimizar e abordar perdas e danos: líderes globais precisam investir em sistemas capazes de prever riscos climáticos e fornecer, também, proteção física e financeira aos mais vulneráveis. Afinal, fenômenos climáticos derivados do aquecimento global, como inundações, afetam a disponibilidade de alimentos.
  2. Investir em ação climática em comunidades com contextos frágeis: pessoas que vivem em áreas afetadas pelas mudanças climáticas também são frequentemente afetadas por conflitos, deslocamentos e desigualdades sociais. Portanto, essas comunidades precisam de apoio e investimento.
  3. Transformar os sistemas alimentares: o PMA avalia que a cadeia de produção, processamento e transporte de alimentos não é equitativa nem sustentável. Eventos climáticos destroem sistemas alimentares que, por outro lado, são grandes contribuintes para o aquecimento global. Por isso, esses sistemas devem ser mais diversos e menos poluidores.

Desmatamento ilegal

Uma das questões mais relevantes envolvendo o Brasil nas discussões climáticas diz respeito ao desmatamento ilegal.

Durante a COP26, realizada na Escócia em 2021, o país se comprometeu a zerar o desmatamento ilegal até 2028. Contudo, desde então, a perda de vegetação seguiu crescendo, indicam os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Com isso, a meta fica mais distante e difícil de ser alcançada.

O relatório Fazendo o bem no Pacto Climático de Glasgow revela que os compromissos firmados durante a COP26 em relação ao desmatamento não estão no ritmo ideal. O texto argumenta que os atuais mecanismos de financiamento climático florestal não recompensam a conservação e oferecem pouca resistência às pressões por desmatamento.

Diante desse cenário, o Brasil está articulando a formação de uma aliança estratégica internacional com o intuito de coordenar esforços de conservação das florestas tropicais. A parceria com Indonésia e República Democrática do Congo reúne mais da metade – 53% – do total de área florestal tropical que resta no planeta.

Energias renováveis

O cenário imposto pela guerra na Ucrânia traz um protagonismo ainda maior para as discussões sobre as matrizes energéticas. A dependência do gás russo acendeu um alerta para que a Europa busque fontes alternativas e limpas de energia. Assim, esse contexto geopolítico resulta em um retrocesso perante os compromissos firmados por diversos países europeus.

Todavia, tal situação pode servir de alerta para que as nações busquem a autossuficiência energética. Para tanto, a maneira mais eficaz é o investimento em energias renováveis. Portugal e Dinamarca, por exemplo, já estão caminhando nessa direção.

O secretário-geral da ONU propõe, ainda, que países ricos e instituições financeiras internacionais forneçam fundos e apoio técnico para que as economias emergentes acelerem a implementação de energias renováveis.

Guterres defende o fim da dependência de combustíveis fósseis e acabar com a construção de novas usinas de carvão. Além disso, o fornecimento de energia universal, acessível e sustentável para todos deve ser o objetivo das estratégias que unem os países desenvolvidos e emergentes em busca de benefícios para a humanidade.

Brasil acima da média global

O Brasil se destaca quando o assunto é energia renovável: a matriz energética brasileira apresenta um índice renovável de 84% perante aos 27% da média mundial.

Neste ano, a produção de energia solar e eólica alcançou valores recorde de forma que, somadas, elas são suficientes para fornecer energia limpa para mais de 40 milhões de brasileiros.

O cooperativismo faz parte desse movimento. O Radar da Inovação, por exemplo, contou a história da parceria entre Certel e Sicredi em prol da produção de energia limpa e renovável. O projeto “A Energia que nos une” resultou na hidrelétrica Vale do Leite. Confira essa história clicando aqui.

Mercado de carbono

Outra pauta amplificada pela presença brasileira na COP27 é o mercado de carbono. Na conferência de 2021, muitas discussões se deram em torno de como os créditos de carbono podem ajudar no cumprimento dos planos para mitigação das mudanças climáticas. Agora, a regulamentação e os mecanismos desse mercado devem ser definidos.

O Brasil deve ficar de olho no desenvolvimento desses temas devido ao potencial econômico desse mercado. Um estudo do ICC Brasil, representação nacional da International Chamber of Commerce, estima que o mercado de carbono pode gerar receitas de até US$ 100 bilhões no país.

Um relatório da ONU indica que a maior parte dos países está atrasada em relação a seus compromissos de reduzir emissões de carbono. Portanto, o potencial desse mercado é crescente.

No cooperativismo, esse mercado já é explorado, sobretudo por coops rurais. Uma regulamentação adequada pode potencializar ainda mais essa atividade. Além disso, a primeira cooperativa dedicada a negociar créditos de carbono foi criada na caatinga pernambucana.

O que esperar da COP27

A COP27 protagoniza o início de uma nova fase de balanço e implementação do Acordo de Paris, assinado em 2015. Agora é o momento dos países entregarem planejamentos concretos sobre de que maneira irão cumprir na prática as metas que estabeleceram para alcançar o objetivo de limitar o aumento da temperatura.

As negociações entre países ricos e pobres em prol do financiamento para as adaptações sustentáveis devem permear grande parte das discussões da COP27. Mais do que isso, o Sul Global requer uma compensação financeira em reparação aos danos causados por séculos de emissões de carbono por parte das economias desenvolvidas.

O Sistema OCB marca presença na COP27. Marcio Lopes de Freitas, presidente do Sistema OCB, coordena um painel sobre a importância das cooperativas para o agro sustentável, de forma a valorizar as ações do ramo. Para ilustrar esse cenário, participam do encontro as cooperativas Coopercitrus (SP) e CCPR (MG) com bons exemplos em energia renovável e em gestão sustentável. “Além disso, as cooperativas Cocamar (PR) e Coplana (SP) mostram iniciativas de agricultura de baixo carbono, através de mudança nos sistemas de produção e mecanismos financeiros para preservação ambiental”.