Juntas, as cooperativas ficam mais fortes. Praticar o princípio da intercooperação é bom para os negócios, pois ajuda a reduzir custos e otimizar os serviços, impulsionando todo o setor e tornando-o mais sustentável.

A criação de laços institucionais dentro do cooperativismo se apresenta como uma vantagem competitiva para as coops. Afinal, a intercooperação ajuda a criar um ecossistema mais saudável para ambiente de negócios cooperativo. Essa união também proporciona o acesso a boas oportunidades, um fator fundamental diante de um mercado altamente competitivo.

Por isso, com a finalidade de mostrar como é possível intercooperar com sucesso, mostraremos 10 casos de sucesso, de diversos lugares e escopos, em que as cooperativas se uniram e colheram resultados positivos. São histórias para você usar de inspiração e aprendizado para o futuro da sua coop. Aproveite a leitura!

1. FGCoop

Talvez o exemplo mais evidente e bem-sucedido de intercooperação seja a união das cooperativas de crédito a fim de criar o Fundo Garantidor de Crédito Cooperativo (FGCoop).

Com o crescimento do Ramo, as instituições elaboraram o fundo com o objetivo de proteger os investidores e dar segurança às cooperativas associadas. Dessa forma, o ambiente de negócios ficou mais estável para as coops e atrativo para os associados.

O FGCoop garante aos cooperados até R$ 250 mil para os depósitos realizados nas cooperativas do setor. O sucesso da iniciativa é inegável: o fundo soma 16 milhões de associados e acumula patrimônio de R$ 2,253 bilhões.

Marco Aurélio Almada, presidente da Sicoob e conselheiro da OCB, defende que a intercooperação é saudável e abre uma gama de oportunidades. “Ela começa quando conseguimos desenvolver uma proximidade entre as pessoas e gerar resultados positivos”, pontua.

2. Hidrelétrica Vale do Leite

A intercooperação também pode ser um importante motor para o desenvolvimento regional, como prova a hidrelétrica Vale do Leite, no Rio Grande do Sul.

A construção do empreendimento é fruto do projeto “A energia que nos une”, aglomerando a expertise técnica da Certel, maior cooperativa de energia do país, e o financiamento de quatro cooperativas do grupo Sicredi. Ao todo, foram acumulados R$ 50 milhões para a construção da hidrelétrica.

A Hidrelétrica Vale do Leite tem previsão de ficar pronta no final de 2022, quando passará a ampliar a geração própria e fortalecerá ainda mais a qualidade no fornecimento de energia. A Hidrelétrica Vale do Leite será a quinta usina hidrelétrica geradora e se localizará no Rio Forqueta, entre os municípios de Pouso Novo e Coqueiro Baixo.

3. Unium

Resultado de uma atuação conjunta entre as cooperativas Castrolanda, Frísia e Capal, a Unium é uma iniciativa de intercooperação visando otimizar a atuação das instituições em suas operações com laticínios, cortes suínos e trigo.

De início, o trio competia pelo mesmo espaço no mercado. Contudo, as cooperativas avaliaram que unir as operações poderia resultar em ganhos de eficiência e rentabilidade para todas elas.  E estavam certas: ao todo, a Unium tem mais de R$ 7 bilhões em faturamento anual e uma presença de peso no mercado nacional.

O conselho administrativo da Unium é composto por diretores das três cooperativas. Eles se reúnem mensalmente para que possam tomar decisões estratégicas de maneira coordenada.

Enquanto isso, cada uma das frentes de operação da Unium fica sob responsabilidade da instituição que tiver maior representatividade naquele mercado. Assim, a Castrolanda é a líder de suínos e leites e a Frísia está à frente do trigo. A Capal é sócia em todas as frentes.

4. Cooperación Verde

Em 2008, dezenas de cooperativas colombianas assinaram um “Pacto Verde”, em que se comprometeram a adotar ações de sustentabilidade ambiental. A partir desse documento, criou-se o Projeto Cooperación Verde, uma plataforma conjunta com o objetivo de promover a compensação das emissões de carbono.

O projeto enfrentou grandes desafios. Um de seus propósitos é ajudar no desenvolvimento de áreas remotas da Colômbia, e muitas dessas regiões sofreram com as consequências do conflito armado e são de difícil acesso. Outro ponto importante se deu no levantamento de recursos para colocar o projeto em execução.

Com a verba, a Cooperación Verde adquiriu áreas produtivas em regiões afetadas por anos de violência constante e mobilizou cooperados para fazer o plantio de árvores, em prol do reflorestamento.

Atualmente, a intercooperação que mantém o projeto conta com 52 cooperativas. Estima-se, ainda, que 100 mil postos de trabalho estejam relacionados, direta ou indiretamente, com a Cooperación Verde. Desde 2009, já foram mais de 2 mil árvores plantadas pela iniciativa e 1.800 hectares de vegetação nativa foram recuperados.

5. Sieppi Verkko

A cidade finlandesa de Rovaniemi, de 59 mil habitantes, tinha acesso bastante limitado a recursos tecnológicos e conectividade. Diante desse cenário, vinte cooperativas de 31 cidades da região se uniram para construir uma estrutura de fibra óptica e levar a internet à remota cidade do norte.

Para levar adiante o projeto batizado de “Fiber to the North”, foi criada a cooperativa de segundo grau Sieppi Verkko. O orçamento inicial, de 300 mil euros, se multiplicou em mais de dez vezes, conforme o projeto foi conquistando sucesso e angariando entusiastas.

Antes da chegada dos serviços da cooperativa, a internet de Rovaniemi não excedia a velocidade de 0,2 MB. Agora, os moradores acessam a rede com uma velocidade até 10 mil vezes superior. Assim, moradores do campo passaram a ter internet de qualidade similar – ou até mesmo superior – que a oferecida nas grandes cidades finlandesas.

6. Supercampo

Diante da crescente demanda por serviços digitais, doze cooperativas agropecuárias se uniram na plataforma de intercooperação Supercampo, lançando um marketplace que atende mais de 80 mil cooperados no país.

A plataforma conecta os associados a diversas empresas cadastradas, visando atender as demandas do campo com agilidade. Assim, os cooperados encontram uma ampla oferta de produtos a preços competitivos.

Ronald Eikelenboom, CEO da plataforma, argumenta que a Supercampo tem o propósito de fortalecer a presença das cooperativas no ambiente digital. Assim, permite a fidelização de novas gerações de cooperados e a criação de um ecossistema modernizado.

7. CCGL

Reunindo 30 cooperativas associadas e mais de 170 mil produtores, a Cooperativa Central Gaúcha Ltda (CCGL) notou discrepâncias na capacidade de pesquisa entre as instituições associadas.

Para sanar tamanha desigualdade, a CCGL decidiu, então, criar uma Rede Técnica Cooperativa (RC), a fim de fomentar a intercooperação. Dessa forma, as cooperativas poderiam atuar conjuntamente, de forma a desenvolver coletivamente soluções para resolver problemas comuns e introduzir protocolos de inovação.

Durante as fases de desenvolvimento e implementação do projeto, os principais desafios enfrentados pela RTC estavam relacionados à:

  • Eliminação de barreiras de conhecimento entre as cooperativas.
  • Conexão entre atores.
  • Superação da falta de recursos.

O RTC já alcançou resultados palpáveis, elaborando melhores práticas para o manejo de doenças, plantas daninhas, combate a pragas e correção de solo. Com o amadurecimento, a iniciativa também firmou parcerias com universidades para estudar inovações no setor.

8. Fundação ABC

Com a finalidade de orientar seus associados sobre novas tecnologias no campo, a Fundação ABC é mantida por mais de 5 mil produtores ligados às cooperativas Frísia, Castrolanda e Capal.

O instituto de pesquisa sediado no estado do Paraná surge em um contexto de constante inovação na agropecuária. As novidades surgem em uma profusão tão grande, que pode ser difícil acompanhar os novos dispositivos e as mais recentes técnicas.

O desafio da Fundação ABC está na condução das safras por meio de tecnologias já disponíveis, além de todo o conhecimento desenvolvido em seus setores de pesquisa. Dessa maneira, ela orienta os produtores cooperados a partir de conhecimentos técnicos, gerando bons resultados econômicos e práticas de sustentabilidade.

Os estudos conduzidos pela intercooperação já apresentam resultados. Os pesquisadores da Fundação ABC desenvolveram meios de mensurar a condutividade elétrica do solo, fornecendo dados que ajudam a aumentar a produtividade do campo.

9. Cotrijal e Coagrisol

No Rio Grande do Sul, a Cotrijal de Não-Me-Toque e a Coagrisol de Soledade firmaram uma aliança estratégica de intercooperação para que consigam obter melhores negócios. Juntas, as cooperativas acreditam que terão mais força na hora de adquirir insumos agrícolas e pecuários.

Outro fator que resultará dessa parceria será o compartilhamento de informações, estudos e sistemas.

Nei Cesar Manica, presidente da Cotrijal, reforça o poder da aliança estratégica. “São duas cooperativas consolidadas e com um grande potencial. Por isso, estudamos, debatemos com nossos conselhos e chegamos a esta estruturação”, observa.

10. NegóciosCoop

A plataforma NegóciosCoop é uma iniciativa da OCB elaborada durante os momentos de dificuldades causados pela pandemia. Notou-se, então, a oportunidade de criar uma plataforma de negócios para promover a intercooperação e a integração entre as cooperativas.

Operando como um marketplace cooperativo, o NegóciosCoop é uma vitrine em que as coops podem se conhecer e comprar produtos uma das outras. O objetivo, explica Márcio Lopes Freitas, presidente do Sistema OCB, é desenvolver um ambiente de incentivo e apoio mútuo entre as cooperativas.

“Estamos criando mecanismos para que a cooperativa não precise buscar o que necessita fora do NegóciosCoop. Uma das novidades, por exemplo, e que pretendemos lançar em breve, é uma forma de pagamento feita de uma coop para outra, diretamente. Assim a coop ganha tempo e a plataforma segue cumprindo seu papel de facilitar e fomentar a intercooperação”, declarou Márcio Freitas.

Conclusão

Como vimos, a intercooperação pode acontecer de diversas maneiras diferentes. Não existe uma fórmula exata para intercooperar. A Unium, por exemplo, reuniu cooperativas que, a princípio, competem pelos mesmos mercados. No fim, todas foram beneficiadas pelos resultados da iniciativa.

A comunidade também tem muito a ganhar quando as coops trabalham juntos, como comprovam a Hidrelétrica Vale do Leite, a Cooperacion Verde e a Sieppi Verko.

E por que não unir para inovar? É isso que fizeram a Fundação ABC e a Supercampo. O principal ponto é: a intercooperação fortalece o ambiente do cooperativismo, que se torna mais sustentável, eficiente e inovador.