CAMTA: produção sustentável garante certificações necessárias para ampliar exportação
Sobre o curso
Após obter selo de Indicação Geográfica (IG) para o cacau, cooperativa espera aumentar mercados e exportações.
Ficha técnica
- Nome da Cooperativa: CAMTA – Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu
- Ramo: Agropecuário
- Produtos: cacau, pimenta do reino, polpas de frutas
- Localização: Tomé-Açu (PA)
- Breve histórico: Fundada em 1929 por imigrantes japoneses que buscavam colonizar a região de Tomé-Açu, no Pará. Começou com a cultura de pimenta-do-reino e depois ampliou para cacau e frutas diversas.
- Resumo: A cooperativa possui um modelo exclusivo de agricultura sustentável que garante produtos de qualidade e com as certificações necessárias para determinados países.
- Para onde exporta: Argentina, Japão, Estados Unidos, Alemanha, França e Israel
Contexto
A história da CAMTA (Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu) se mistura com a imigração japonesa no Brasil. A cooperativa foi fundada em 1929 por imigrantes japoneses que buscavam colonizar a região de Tomé-Açu, no Pará, cultivando o cacaueiro, hortaliças e arroz.
A CAMTA iniciou suas atividades com a cultura de pimenta-do-reino, que só foi prosperar depois da 2ª Guerra Mundial, transformando-se no “diamante negro” que gerava desenvolvimento à região.
No final da década de 60, porém, começou o declínio da fase áurea da pimenta-do-reino, o que fez a cooperativa diversificar a produção, aderindo a culturas de curto, médio e longo prazos. Essa mudança fez com que a região se tornasse um importante polo exportador de frutas tropicais.
Mais tarde, em 1987, após apoio financeiro do governo japonês, a CAMTA implantou sua agroindústria de polpas de frutas, que conta com cerca de 170 cooperados, somados a mais de 1.800 produtores familiares cadastrados para o fornecimento de matéria prima.
A cooperativa produz e exporta cacau, pimenta-do-reino e polpa de fruta para países como Argentina, Japão, Estados Unidos, Alemanha, França e Israel.
Desafios
Os desafios da CAMTA sempre estiveram atrelados à sustentabilidade e à certificação da sua produção, como forma de se diferenciar no mercado. As questões climáticas globais, por exemplo, sempre estiveram no radar da cooperativa.
Para facilitar a entrada em alguns mercados também era necessário obter algumas certificações. No caso do cacau, a CAMTA buscava o selo de Indicação Geográfica (IG) para comprovar que o produto é genuíno e possui qualidades particulares, ligadas à sua origem.
Isso porque, em determinados mercados internacionais, muitos produtos são caracterizados não apenas pela marca que ostentam, mas também pela indicação da sua verdadeira origem geográfica. Ou seja, essa indicação representa reputação e o distingue dos demais produtos disponíveis no mercado.
Soluções
Um dos grandes diferenciais da CAMTA é o Sistema Agroflorestal de Tomé-Açu (SAFTA), um modelo exclusivo de agricultura sustentável na Amazônia, que faz, por exemplo, com que o cacau cresça em um ambiente que simula o de uma floresta nativa e ainda seja produzido de forma sustentável.
O SAFTA teve início na década de 70 através da consorciação de diversas culturas agrícolas, frutíferas e florestais nas áreas onde predominava a monocultura decadente da pimenta-do-reino. O sistema é inspirado na vivência dos povos ribeirinhos que plantavam em seus quintais o policultivo de árvores frutíferas e florestais, imitando a floresta.
Preocupada com as questões climáticas globais, a CAMTA busca conscientizar seus cooperados a praticarem o SAFTA em suas propriedades agrícolas. Pois é uma forma de contribuir para a redução dos desmatamentos da floresta primária e assegurar um ambiente de trabalho agradável, sob a sombra das árvores frutíferas e florestais.
A disseminação do SAFTA tem promovido a melhoria na qualidade de vida das comunidades envolvidas e garantido a comercialização de produtos gerados na cadeia de produção contínua e sustentável. Inclusive, é um diferencial que contribui para a exportação.
Além disso, a localização da cooperativa é tida como estratégica não só do ponto de vista geográfico. Estar na região Amazônica garante uma alta incidência de sol, que, segundo a cooperativa, garante um produto de melhor qualidade, com sabor mais doce e acentuado – o que é bastante valorizado pelos importadores.
Desenvolvimento
Devido à sua origem, a CAMTA começou a exportar primeiramente para o Japão, mas logo ampliou os mercados com exportação direta e também por meio de traders e brokers. No Japão, por exemplo, a cooperativa vende diretamente para uma grande distribuidora local, que revende internamente no país.
Uma novidade recente na cooperativa foi a obtenção, em 2019, do selo de Indicação Geográfica (IG) para o cacau. Inclusive, a busca pelo selo de IG nasceu de uma demanda do mercado de exportação.
“Levamos 10 anos para conseguir isso e tivemos que adequar muitas coisas para dar certo”, lembra o presidente da CAMTA, Alberto Opatta. A primeira exportação de cacau com o selo de IG ocorreu em 2020.
A CAMTA possui também as certificações Orgânica e Kosher e está tentando obter a ISO 22000 – Gestão de Segurança de Alimentos. Trata-se de uma norma internacional que define os requisitos de um sistema de gestão de segurança de alimentos abrangendo todas as organizações da cadeia alimentar, da “colheita à mesa”. Por não possuí-la, a cooperativa conta que já deixou de vender para países onde a ISO 22000 é obrigatória.
Resultados
Em 2022, a cooperativa comemorou 93 anos de vida e, principalmente, sua consolidação no mercado, superando inúmeras dificuldades ao longo das décadas. Vale lembrar que a CAMTA não vende apenas para o mercado externo. Inclusive, a cooperativa também pretende ampliar sua participação no mercado nacional, especialmente em São Paulo.
Sobre os produtos disponibilizados, a cooperativa trabalha com dois tipos de cacau: o cacau corrente em amêndoa e o cacau especial (Meiji), que é vendido exclusivamente para o mercado internacional – e teve 376 toneladas exportadas em 2019, o que representou um faturamento de quase R$ 5 milhões.
Ou seja, cerca de 70% do cacau produzido é exportado. Com o selo de IG, a cooperativa espera ampliar esse número e os países importadores.
Os demais produtos exportados são: pimenta-do-reino branca, pimenta-do-reino preta e polpas de frutas de mais de 15 sabores. A polpa de açaí é uma das mais demandadas, chegando a exportar, por exemplo, mais de 200 toneladas por ano.
Outro resultado significativo foi o início das exportações para Israel em 2020, que representa uma excelente oportunidade de abertura do mercado do Oriente Médio. É uma forma de compensar a perda de espaço em mercados como o Japão, que passou a demandar menos polpas de fruta nos últimos anos.
Aprendizados
- A preocupação com a sustentabilidade, a qualidade e a origem geográfica dos produtos garantem novos mercados internacionais.
- Com a agenda ESG com cada vez mais destaque, sai na frente quem a prioriza na prática.
- Poder de adaptação: a perda de espaço no Japão fez com que a CAMTA se adaptasse para buscar novos mercados, atendendo às novas demandas.
- A diversificação da produção pode ser essencial para a perenidade da cooperativa.