O cooperativismo é protagonista do setor de saúde no Brasil. Criado com a intenção de promover e cuidar da saúde, proporcionando melhores condições para profissionais e pacientes, o cooperativismo de saúde brasileiro é referência tanto dentro do país quanto para o cooperativismo global.

A marca mais lembrada pelos brasileiros na categoria “Planos de Saúde” na pesquisa Top of Mind, realizada pelo jornal Folha de S. Paulo, é uma cooperativa. E o reconhecimento não é algo novo: a edição de 2022 foi a 30ª vez seguida em que a Unimed liderou o levantamento. Tudo isso em meio ao crescimento na carteira de beneficiários das cooperativas que compõem o Sistema Unimed.

As mais de 340 cooperativas também representam a força do cooperativismo de saúde brasileiro levando em conta o cenário cooperativista global. Segundo dados do World Cooperative Monitor (WCM), o Sistema Unimed do Brasil ocupa a 31ª posição no ranking mundial de volume de negócios, sendo o sistema cooperativo brasileiro mais bem colocado.

Ou seja: é fundamental ficar de olho no cooperativismo de saúde, entender seu tamanho e suas perspectivas para o mercado brasileiro. Neste artigo, iremos fazer um panorama das cooperativas de saúde no Brasil e entender os principais desafios e oportunidades que se apresentam ao setor. Boa leitura!

Panorama do cooperativismo de saúde

Reunindo profissionais de saúde e seus usuários, o cooperativismo de saúde tem o objetivo de proporcionar ou adquirir serviços focados na preservação, assistência e promoção da saúde das pessoas.

O Ramo Saúde já existe há mais de 60 anos, construído por cooperativas médicas, odontológicas e de todas as profissões classificadas como atividades de atenção à saúde humana. Além disso, as cooperativas de pessoas que se reúnem para constituir um plano de saúde também se incorporam ao cooperativismo de saúde.

Os dados do Anuário do Cooperativismo Brasileiro, produzido pelo Sistema OCB, traduzem em números a força e a representatividade do Ramo. Segundo o levantamento, o cooperativismo de saúde encerrou 2021 com crescimento de 9% em relação ao ano anterior. Veja dados do Anuário:

  • Cooperativas: 767
  • Cooperados: 318.704
  • Empregados: 126.796

Segmentação do cooperativismo de saúde

O Ramo Saúde marca uma presença forte no cotidiano das pessoas, apresentando uma gama de diferentes serviços. Dessa forma, as cooperativas de saúde proporcionam uma boa variedade de opções tanto para os profissionais quanto para os usuários desses serviços.

Assim, o Anuário do Cooperativismo Brasileiro aponta que a distribuição do cooperativismo de saúde dentro do segmento acontece, proporcionalmente, da seguinte maneira:

  • Operadoras de planos de saúde médico: 39,5%
  • Prestadoras de serviço – hospitalares e odontológicos: 19,3%
  • Outros profissionais de saúde (fisioterapeutas, enfermeiros, psicólogos, nutricionistas, etc): 15%
  • Especialidades médicas prestadoras de serviços – médico e odontológico: 13,4%
  • Operadoras de planos de saúde odontológico: 12,4%
  • Usuários de plano de saúde: 0,3%

Indicadores do cooperativismo de saúde

As cooperativas de saúde têm uma cobertura ampla no Brasil, proporcionando atendimentos a uma grande quantidade de pessoas. Para se ter uma ideia da presença do ramo, o cooperativismo de saúde atua em 85% do território nacional, atendendo cerca de 24 milhões de pessoas.

Assim, a aliança entre o conhecimento técnico e os princípios do cooperativismo permite a associação de trabalho, geração de emprego, renda e compromisso socioambiental na prestação de serviços de qualidade para a sociedade.

Além disso, esses quesitos também podem ser representados pelos dados econômicos e financeiros do Ramo. Em 2021, por exemplo, as cooperativas do ramo somaram R$ 53 bilhões em ativos. Os ingressos do exercício também cresceram em relação a 2020: foram de R$ 89 bilhões, 17% a mais que no ano anterior.

O cooperativismo de saúde e seus resultados financeiros crescentes ainda resultam em desenvolvimento social, arrecadação de impostos e distribuição de renda. Esses dados do Anuário do Cooperativismo Brasileiros referentes a 2021 deixam esses fatores bem evidentes:

  • As cooperativas de saúde recolheram 4,6 bilhões de reais aos cofres públicos;
  • Ao todo, 2,1 bilhões de reais foram investidos em salários e benefícios para os colaboradores.

O princípio da intercooperação

A intercooperação, além de ser um dos princípios do cooperativismo, também se apresenta como uma estratégia de negócios positiva para a competitividade das cooperativas. E no cooperativismo de saúde as coisas não são diferentes.

Por meio de parcerias e negociações, as cooperativas de saúde firmam acordos de transações comerciais, de prestação de serviços, de cooperação técnica ou financeira. Isso pode ser feito tanto entre cooperativas de saúde quanto em parceria com instituições que atuam em outros setores do coop.

A importâncias da intercooperação no Ramo Saúde é evidenciada pelos dados de 2021, quando:

  • 49% das cooperativas de saúde fizeram negócios com cooperativas de crédito;
  • 18% das representantes do cooperativismo de saúde recorreram às cooperativas de trabalho;
  • 11% das instituições do Ramo usaram serviços proporcionados pelas coops de transporte;
  • 7% das coops de saúde compraram produtos diretamente das cooperativas agropecuárias;

Oportunidades e desafios para o cooperativismo de saúde

O cooperativismo de saúde cumpriu um papel fundamental durante a pandemia de Covid-19, ajudando a suprir a demanda repentina de pacientes. Dessa forma, o Ramo ajudou a desafogar o setor público que, sozinho, ficou sobrecarregado.

Agora, mesmo após o arrefecimento da pandemia, o setor enfrenta novos desafios. Por exemplo: em 2021, de acordo com a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), as despesas médicas do setor privado subiram 24% em relação ao ano anterior. Além disso, as despesas com bens e serviços de saúde corresponderam a 9,6% do Produto Interno Bruto.

O mercado de saúde passa por transformações dinâmicas, o que afeta diretamente o cooperativismo. A crescente preocupação com a saúde e o bem-estar é, inclusive, uma das tendências de consumo que mencionamos neste artigo.

Todavia, mesmo que o cenário se apresente desafiador e complexo, as cooperativas de saúde registram resultados positivos, comprovando a competitividade do modelo cooperativista. Portanto, confira desafios e oportunidades para o Ramo Saúde.

Transformação digital

O segmento de saúde é um dos mais impactados pela transformação digital. Isso acontece porque novas tecnologias são adotadas pelo setor em busca de maior precisão em diagnósticos e procedimentos, além de potencializar a prevenção. A relevância é tanta que o InovaCoop preparou um material sobre como novos recursos tecnológicos impactam o cooperativismo de saúde.

A Inteligência Artificial (IA) se apresenta como uma grande aliada dos serviços de saúde. Ela tem a capacidade de contribuir das seguintes formas, por exemplo:

  • Analisar dados e auxiliar no diagnóstico mais preciso de doenças e na recomendação de tratamentos;
  • Armazenar e checar dados na nuvem, além de melhorar a base de dados;
  • Aprimorar terapias e dispositivos;
  • Gerar notificações instantâneas sobre mudanças no estado de saúde de um paciente, de maneira instantânea;
  • Melhorar cirurgias com uso de robôs e assistentes virtuais.

A IBM, uma das maiores companhias de tecnologia do planeta, desenvolveu o IBM Watson, uma inteligência artificial capaz de escanear livros de exames para aprender os princípios básicos de diagnósticos. Assim, ela é utilizada para analisar dados de saúde, otimizando e acelerando o processo.

No cooperativismo brasileiro, há o caso da Unimed Grande Florianópolis, que implantou o Robô Laura nas unidades de internação clínica e cirúrgica. A IA atua no monitoramento e cuidados dispensados aos pacientes com risco acentuado de deterioração clínica. A função é realizada através de monitoramento constante dos sinais vitais.

Registro eletrônico e Internet das Coisas Médicas

As inovações tecnológicas e avanços de inteligência artificial proporcionam, ainda, o desenvolvimento do Registro Eletrônico de Saúde (RES). Essa ferramenta possibilita a criação de prontuários eletrônicos e fichas pessoais dos pacientes que contêm todo o histórico.

O mercado de Internet das Coisas Médicas (Internet of Medical Things – IoMT, em inglês) também vem crescendo, revela um estudo da consultoria Deloitte. São, principalmente, os dispositivos vestíveis, como relógios inteligentes, que ajudam no monitoramento de dados relacionados à saúde.

Essa coleta de informações ajuda a acompanhar o progresso de um tratamento ou até na identificação de condições clínicas. Para 2023, o mercado prevê que o setor de dispositivos vestíveis atinja um valor de mercado de US$ 27 milhões.

Telessaúde e telemedicina

O isolamento social proporcionado pela pandemia também ajudou a impulsionar o desenvolvimento da telessaúde e da telemedicina. A consultoria PwC descreve esse fenômeno como “virtualização da medicina”, ao transferir procedimentos para espaços virtuais.  Consequentemente, os pacientes passarão a adotar um modelo contínuo de atendimento, prevê a PwC.

Na Central Nacional Unimed (CNU), a telemedicina se tornou uma aliada em diferentes modalidades: teleorientação, teletriagem, telemonitoramento e teleconsulta. A modalidade está ganhando espaço porque reduz custos tanto para os profissionais quanto para os pacientes, além da facilitação logística.

O atendimento remoto não cabe apenas às consultas clínicas. A Unifop, que atende às áreas de psicologia, nutrição e fonoaudiologia, criou sua própria plataforma para realizar teleatendimentos. A solução, a propósito, é fruto de uma iniciativa de intercooperação.

Com isso, o investimento em telessaúde poderia expandir os serviços para pacientes externos e, ao mesmo tempo, ajudar os hospitais a gerenciar custos e aumentar a receita. Afinal, além de permitir consultas por vídeo ou teleconferência, ela pode atuar como um complemento para a prestação de serviços presenciais.

Experiência do paciente

Não é só a tecnologia que está mudando no mercado de saúde: também há uma transformação cultural em curso. A experiência do paciente vem se tornando um fator cada vez mais central em prol da humanização no setor.

A jornada em prol da conquista da confiança do paciente resulta, assim, em uma nova dinâmica na relação entre pacientes, médicos e cooperativas de saúde. Afinal, os pacientes estão mais criteriosos e exigentes com os serviços prestados e demandam atenção personalizada.

A Unimed Poços de Caldas usou a tecnologia para aprimorar seus processos de segurança do paciente. Em parceria com uma startup, a cooperativa mensura a satisfação dos seus pacientes durante o atendimento por meio de uma série de critérios, que são acompanhados com o tempo.

A iniciativa ajudou a cooperativa a identificar os pontos críticos de melhoria no atendimento e culminou na melhora significativa de todos os itens avaliados. Essa iniciativa desenha um norte que se apresenta para humanizar ainda mais o cooperativismo de saúde.

Conclusão

A excelência do cooperativismo de saúde brasileiro é comprovada pela Agência Nacional de Saúde. Segundo o ranking da ANS, o Índice de Desempenho da Saúde Suplementar (IDSS), as 235 operadoras do sistema Unimed foram classificadas em boas faixas de desempenho e, das 60 operadoras com nota máxima, 53 são operadoras Unimed. Já as Uniodontos somaram 13 das 18 maiores notas (acima de 0,9) das operadoras exclusivamente odontológicas.

Ou seja: além da capilaridade e acessibilidade, o cooperativismo de saúde proporciona atendimento de alto nível aos pacientes.

Com isso, o cooperativismo se destaca e se comprova, cada vez mais, como um modelo de negócios sólido no mercado de saúde brasileiro. Essa solidez é a responsável pela resiliência do Ramo, que se mantém atento às tendências e superando os desafios que se impõem em um ambiente de negócios competitivo e acirrado em um setor fundamental para a sociedade.