A relevância da sustentabilidade para os negócios nunca foi tão grande quanto agora. A agenda ESG (Ambiental, Social e Governança, em inglês) ganha evidência, o consumidor está cada vez mais consciente e os posicionamentos institucionais em relação ao meio ambiente estão sob o interesse da sociedade.

Promover iniciativas sustentáveis é, portanto, um ótimo negócio tanto para as cooperativas quanto para o planeta. Não somente do ponto de vista reputacional, como também do financeiro. Mas é justamente esse aspecto que trava ótimas ideias: a falta de recursos.

Captar recursos é, portanto, uma ótima alternativa para tirar iniciativas verdes do papel sem prejudicar as finanças da cooperativa. Conheça formas de captar financiamento sustentável para dar vida a projetos e veja exemplos de cooperativas que se beneficiaram dessas oportunidades.

Por que iniciativas sustentáveis são bom negócio

Antes de nos aprofundarmos em formas de obter financiamento para viabilizar iniciativas sustentáveis e em exemplos de cooperativas que operam dessa forma, vamos nos ater à pergunta que toda cooperativa já se fez ou questionará em algum momento: direcionar esforços para conduzir projetos verdes traz resultados?

A resposta é, inquestionavelmente, sim. Claro que o argumento ambiental é fundamental para justificar essa resposta, tendo em vista o papel destes projetos para a preservação dos recursos naturais e pela construção de um mundo melhor para as gerações futuras. O impacto, porém, também é válido para os negócios da cooperativa.

Sustentabilidade é uma vantagem competitiva que ajuda empresas a crescerem. De acordo com estudo da McKinsey divulgado em 2019, organizações com propostas ESG bem definidas são melhor avaliadas financeiramente, têm acesso facilitado a entidades governamentais e podem conquistar a preferência do público a partir de seus valores.

O mesmo artigo aponta também que ser sustentável é uma forma de reduzir custos. Reformular a produção, recorrer a materiais reciclados e investir em energias limpas e eficientes são exemplos de como o ecologicamente correto também é saudável para o orçamento das organizações.

A reputação da cooperativa também está em jogo. A imagem de uma organização preocupada com o desenvolvimento sustentável atrai pessoas e instituições, tanto para trabalhar em conjunto quanto para fechar negócios. Todos esses fatores demonstram que transformar a preocupação com o meio ambiente em medidas efetivas é um investimento e tanto para qualquer cooperativa.

Como práticas ESG facilitam o acesso a financiamento sustentável

Agora que você já tem diversos motivos para apoiar a implementação de projetos verdes na sua cooperativa, é hora de pensar em como executá-los. E, seja qual for a sua ideia, há algo necessário para fazê-la sair do papel: recursos financeiros. Este é um problema real do qual não há escapatória, afinal, a falta de recursos é a principal barreira para a inovação em cooperativas. É preciso, portanto, encontrar formas de contornar este empecilho.

Uma alternativa viável para captação de recursos é através de linhas de crédito. Encontrar a melhor alternativa e acessar esses recursos demanda análise de risco por parte do tomador. O aspecto ambiental precisa entrar na análise. Segundo estudo da Bain & Company, o financiamento ligado a projetos ESG está correlacionado ao desempenho consistente e à menor inadimplência.

Sustentabilidade e saúde financeira parecem realmente caminhar lado a lado. Um estudo da Brazilian Business Review verifica que o desempenho ESG reduz o custo de capital e as restrições financeiras para empréstimos mais baratos em países do BRICS.

Linhas de crédito verde

O desempenho e as facilidades encontradas para empréstimos atrelados a iniciativas sustentáveis ocorrem porque as instituições financeiras consideram o impacto ambiental em suas avaliações. Também preocupadas com o meio ambiente e atentas à própria reputação, essas organizações têm mostrado seu lado ESG através de linhas de crédito especiais.

O BNDES, banco federal que é parceiro do cooperativismo, possui vasto portfólio de produtos sustentáveis. O BNDES Finem apresenta diversas alternativas de financiamento para projetos verdes e geração de energia renovável, por exemplo.

O Fundo Clima é uma alternativa com várias modalidades de financiamento de projetos para redução de gases aceleradores do efeito estufa. Há, ainda, os Debêntures em Ofertas Públicas, títulos de dívida que têm como um de seus principais objetivos investir em sustentabilidade.

O cooperativismo manifesta seu interesse pela comunidade através de linhas verdes com condições favoráveis. Ao longo dos últimos anos, o setor fomentou, por exemplo, o acesso a água tratada e a rede de esgoto, a instalação de fontes de energia renováveis e a redução das emissões de carbono no agronegócio. Instituições como Sicredi, Unicred e Viacredi são protagonistas nessa missão.

Plano Safra e a sustentabilidade no campo

Já é de conhecimento das cooperativas e de organizações agropecuárias em geral que o Plano Safra é o principal instrumento governamental de apoio a este importante ramo da economia brasileira. Lançado em 2002, o projeto seguirá ativo para a safra 2025/2026.

Na safra 2024/2025, mais de R$ 107,3 bilhões foram destinados a linhas de financiamento para investimentos, programas que viabilizam a inovação e a modernização das atividades produtivas. Nesse cenário, a produção amigável ao meio ambiente entra na balança na hora de buscar acesso a tais recursos.

De acordo com o Governo Federal, incentivar sistemas de produção ambientalmente amigáveis é uma prioridade. Ter o Cadastro Ambiental Rural (CAR) regularizado e analisado é um critério para contemplar os pedidos de produtores rurais. A adoção de práticas sustentáveis pode, inclusive, proporcionar redução de até um ponto percentual na taxa de juros de custeio.

O Plano Safra já é capaz, portanto, de impulsionar o agronegócio rumo à produtividade ecologicamente sustentável. Porém o Sistema OCB enxerga potencial ainda maior para contemplar as necessidades das cooperativas. Por isso, a entidade apresentou propostas ao Ministério da Agricultura e Pecuária, incluindo um pedido por redução nas taxas de juros.

Outras opções de financiamento sustentável

O crédito é, certamente, a forma mais consagrada para uma cooperativa obter recursos para o financiamento sustentável para seus projetos. O aspecto sustentável abre caminhos e diminui entraves, mas o crédito nem sempre é uma opção viável. Caso contrair novas dívidas não seja possível dentro do atual contexto da organização, não desista: é possível encontrar alternativas para alavancar iniciativas verdes.

Um meio para captação de recursos é a entrada no mercado de créditos de carbono. Foi sancionada em dezembro do ano passado a lei que institui um mercado regulado, no qual empresas e cooperativas com projetos que reduzem emissões de carbono podem vender créditos para aquelas que ficam acima da meta. O agronegócio não está incluído nas obrigatoriedades, mas pode participar do mercado voluntário através de atividades como recomposição e manutenção de vegetação nativa.

Outra opção para financiar projetos sustentáveis é através de editais de fomento. Diversas instituições ligadas ao Governo promovem editais de recursos reembolsáveis – nos quais o capital precisa ser devolvido – e até mesmo os não reembolsáveis – quando o capital não precisa ser devolvido. Para saber mais detalhes sobre como funciona esta forma de captação de recursos, confira este artigo do NegóciosCoop.

Cooperativas e o financiamento sustentável na prática

Agora que você já sabe diversas possibilidades de captação de recursos para iniciativas verdes e entende formas de acessá-las, é hora de conhecer exemplos de cooperativas que conquistaram apoio financeiro para executar seus projetos sustentáveis – um caso é no ramo agropecuário e o outro é em infraestrutura.

Intercooperação viabiliza hidrelétrica da Certel

A Certel, cooperativa gaúcha do ramo de infraestrutura, sempre busca formas de impulsionar o desenvolvimento regional através do fornecimento de energia elétrica. Ao identificar os benefícios que uma hidrelétrica traria, tanto do ponto de vista econômico quanto ambiental, a cooperativa decidiu se esforçar para tirá-la do papel. A grande questão passou a ser a captação de recursos: eram necessários R$ 50 milhões.

Devido à familiaridade com o sistema Sicredi, a Certel procurou a instituição de crédito em busca de soluções. Como o projeto era grande demais para uma cooperativa financiar sozinha, outras singulares se uniram à iniciativa, constituindo um grande grupo: Certel, Sicredi Região dos Vales, Sicredi Ouro Branco, Sicredi Integração RS/MG e Sicredi Botucaraí.

As cinco cooperativas dividiram igualmente os custos para a construção da estrutura, com o Sicredi fornecendo boas condições de crédito, garantias adequadas e conta reserva nula. A Hidrelétrica Vale do Leite pode atender a 19.200 pessoas e gera eletricidade de forma renovável.

Cooabriel leva energia renovável à sua comunidade

A Cooperativa Agrária de Cafeicultores de São Gabriel (Cooabriel) atua há 61 anos no Espírito Santo e tem como seu carro chefe a produção de café conilon. A cooperativa também tem como foco estimular o desenvolvimento de sua região, e detectou a necessidade de apoiar a geração de energia elétrica.

O telhado do armazém da Cooabriel abrigará um complexo de usinas de geração de energia fotovoltaica em São Miguel da Palha. O projeto, lançado em 2023, tem potência suficiente para atender mais de 300 residências de forma sustentável.

Para o projeto ganhar vida, a Cooabriel contou com aporte da cooperativa Ciclos, que concedeu recursos na ordem de R$ 3 milhões. O Sicoob ES também faz parte da operação, atuando como agente financeiro que permite aquisição de cotas da usina.

Conclusão: a jornada pelo financiamento sustentável

Com detalhes sobre os modelos e exemplos práticos, fica fácil de perceber que projetos sustentáveis podem ser viáveis financeiramente e trazer incontáveis benefícios para a cooperativa, seja nos negócios ou na reputação perante a sociedade.

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