Em meio a um mercado competitivo, a agregação de valor nas cadeias produtivas agropecuárias apresenta um diferencial fundamental para as cooperativas. Oferecer ao consumidor produtos que contam com uma qualidade singular ou com uma experiência de compra agradável representa uma vantagem competitiva considerável.

Frente à sua importância, o Sistema OCB incluiu a agregação de valor no ramo do cooperativismo agropecuário como um dos pilares do Diagnóstico de Negócios do NegóciosCoop.

Neste artigo, vamos apresentar a importância e os desafios de agregar valor nesse ramo cooperativista. Também vamos apontar táticas para colocar a agregação de valor em prática, com exemplos de cooperativas que utilizaram de tais métodos. Boa leitura!

Agregação de valor: o 4° pilar do diagnóstico de negócios

Agregação de valor nada mais é do que a decisão do cliente de pagar mais por um produto dadas suas qualidades e benefícios exclusivos. Ou seja, o consumidor conscientemente decide investir mais em um produto por conta de sua particularidade, seja estrutural ou até na experiência de compra.

Desafios das cooperativas no piloto do diagnóstico de negócios

Muitas cooperativas agropecuárias encontram obstáculos em níveis de produção e venda que atrapalham no diagnóstico de negócios e na agregação de valor. Essas organizações trabalham predominantemente com operações comerciais de base primária, ou seja, com produtos “in natura” que possuem baixo valor agregado.

A falta de conhecimento em relação às legislações que permeiam a área agrícola também se mostra como um obstáculo, pois dificulta a compreensão dos pré-requisitos legais exigidos pelos órgãos fiscalizadores. Dessa forma, é mais difícil implementar unidades de beneficiamento. Consequentemente, o nível de ilegalidade dos produtos e estabelecimentos se mantém alto, ainda que não intencionalmente.

A criação de uma frente produtiva por parte dos cooperados é outro ponto sensível para a cooperativa em geral. Isso porque a agregação de valor dos produtos fabricados não está orientada pelas diretrizes da cooperativa, gerando dificuldade na padronização de processos e produtos. Assim sendo, essa prática resulta num inusitado cenário de concorrência interna entre cooperados e a própria cooperativa.

Agenda essencial da agregação de valor

Para os desafios enfrentados pelas cooperativas agropecuárias, existem táticas planejadas que podem ser seguidas. A começar por agregar valor às mercadorias já existentes, por meio da comercialização de produtos regulamentados.

Focando nas frentes produtivas mais viáveis, de acordo com as escalas de produção e demanda do mercado, é possível pensar em iniciativas criativas e inovadoras. Além de trabalhar com a realidade da cooperativa, esses projetos podem aumentar a margem de contribuição e expansão do mercado.

E como criar soluções inovadoras para agregar valor aos produtos agropecuários? É possível focar nas formas, aromas, sabores e quaisquer outros diferenciais encontrados nas mercadorias dessas regiões agrícolas tão ricas e que muitas vezes não foram totalmente exploradas.

Outro ponto importante é construir uma frente educativa com os colaboradores, visando o entendimento das regularizações legais e das normas e princípios da própria cooperativa. Assim, é possível incentivar o comércio legalizado e evitar a concorrência interna. Diante disso, o Diagnóstico de Negócios estabelece a seguinte agenda essencial:

  • Inovação e agregação de valor “produtos foco”.
  • Regularizações legais.

Caminhos para melhorar a agregação de valor nas cooperativas agro

Diante da importância de agregar valor no ramo agropecuário, o NegóciosCoop indica algumas soluções capazes de tornar os produtos das cooperativas mais valiosos e competitivos no mercado.

Verticalização da cadeia

Enriquecer a cadeia produtiva por meio da verticalização é uma das soluções mais interessantes para a agregação de valor. Trabalhar o processamento dos produtos primários é uma forma de industrializar as cooperativas, aumentar a receita e desenvolver um portfólio de produtos mais diversificado.

A Cooperacre é um exemplo de cooperativa de sucesso da região amazônica que apostou na verticalização de sua cadeia produtiva. A cooperativa nasceu focada no extrativismo, mas começou a crescer quando inaugurou sua primeira indústria de beneficiamento de castanha-do-Brasil. Hoje são três plantas industriais só para as castanhas e cinco ao todo.

Com esse movimento, a Cooperacre está expandindo o seu portfólio de produtos, dando mais opções para gerar riqueza aos produtores locais. Para aliar o aumento na produção e a preservação ambiental, a Cooperacre contou com apoio do Fundo Amazônia.

Regularizações e certificações

Certificações de qualidade e de respeito à legislação ajudam as cooperativas a tornarem seus produtos mais valiosos tanto no mercado interno quanto no externo. Muitos clientes, em diferentes países, demandam certificações sobre os processos de produção. Há ainda certificações obrigatórias para exportar a determinados países.

Diante do desafio de implementar uma “cultura de exportação” entre os cooperados, a Coplana desenvolveu treinamentos, capacitações e uma comunicação objetiva. Buscando impulsionar as exportações de amendoim, a organização também construiu um armazém de big-bags que permitiu o acondicionamento do amendoim em condições controladas e favoreceu a logística de exportação.

Além disso, a coop procurou considerar as regulamentações de cada mercado e, em 2005, iniciou o blancheamento do amendoim para atender o mercado europeu. Outro ponto importante foi a promoção de um processo ativo de certificações, a fim de garantir a qualidade do produto exportado, e a participação constante de feiras internacionais para divulgação de seus produtos.

Indicação geográfica

Por serem característicos de seu lugar de origem, alguns produtos podem receber o registro de indicação geográfica. Isso acaba agregando mais valor à mercadoria, que só pode ser encontrada naquele ambiente.

Os Cafés Robustas Amazônicos são um exemplo dessa agregação de valor. Em meio a uma crise da cafeicultura que assolava Rondônia, o desmatamento começou a crescer para dar espaço à pecuária, que era vista por muitos produtores como a solução econômica.

Começou então um esforço coletivo de pesquisa científica, extensão rural e apoio de entidades como o Sicoob Credip e da Embrapa para fomentar e difundir entre os produtores o uso de boas práticas agronômicas. Também houve investimentos para melhorar o material genético das plantas, orientar a plantação e a colheita, aprimorar a irrigação e aumentar os cuidados no processamento da produção.

Como resultado de todo esse empenho nasceu uma bebida de perfil sensorial exótico e único, com plantas que se adaptaram e se naturalizaram com rusticidade e alta produtividade, dando origem aos cafés especiais Robustas Amazônicos. Assim, o grão obteve uma Identificação Geográfica inédita para cafés canéforas sustentáveis do mundo e reviveu a cafeicultura em Rondônia.

Inovação e automação

Prezar pela inovação e criatividade é uma forma de encontrar boas soluções para alguns empasses enfrentados pelas cooperativas. Além disso, superar alguns desafios ou melhorar o produto oferecido ao consumidor final são formas de economizar verbas e gerar mais valor às mercadorias.

Em 2005, a Frimesa fez investimentos de R$6,5 milhões para automatizar uma de suas linhas de corte. Com essa iniciativa, a organização diminuiu o custo de manter 10 funcionários, que ainda corriam riscos a longo prazo devido ao caráter desgastante da função.

O processo manual também era muito sujeito a imprecisões, que acarretavam o desperdício de carne e levavam a eventuais contaminações, com respectiva perda de material. Dessa forma, a adoção de recursos inovadores contribuiu para a agregação de valor em seus produtos agroindustriais.

Sustentabilidade

Se atentar à sustentabilidade é um ponto fundamental para o sucesso das cooperativas agropecuárias, sobretudo pensando no futuro e nas novas demandas de mercado. Não apenas práticas sustentáveis são bem vistas pelos clientes, como também são essenciais para a continuidade da produção: não é possível cultivar nada em um solo infértil.

Frente a importância da sustentabilidade, a mineira Expocacer (Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado) investiu em práticas que visam preservar a saúde do solo, aumentar a biodiversidade, proteger recursos hídricos e promover a resiliência dos sistemas agrícolas.

Essas iniciativas garantiram à organização o selo de certificação regenerativa concedido pela Regenagri. Com essa certificação, a Expocacer também se tornou a primeira cooperativa do mundo a receber tal reconhecimento.

Saúde e bem-estar

A preocupação com a saúde é uma tendência que pode ser observada a alguns anos dentre a população mais jovem. Rotinas de exercícios físicos, compras de produtos orgânicos e buscas por uma alimentação equilibrada são opções que tem agradado as novas gerações.

Pensando nesse mercado em alta, a Aurora Coop desenvolveu a Aurora Bem Leve, uma linha de refeições fitness prontas. Os alimentos são selados a vácuo e cozidos em baixa temperatura por um longo tempo para conservar a textura, o sabor e manter a integridade dos nutrientes.

A iniciativa teve início em 2022 e, desde seu lançamento, se tornou um sucesso de vendas. A Aurora Coop também recebeu diversos prêmios Devido às embalagens tecnológicas dessa linha.

Intercooperação

A intercooperação é um dos sete princípios do cooperativismo e se baseia em formar alianças para desenvolver negócios. A tática é uma ótima maneira de expandir as cooperativas, ajudando ambas as partes – e a comunidade como um todo – a se desenvolverem.

A Unium surgiu da união de outras três organizações: Frísia, Castrolanda e Capal. As coops atuavam no mesmo ramo e competiam entre si, além de isoladamente terem pouco capital para investimento em pesquisas e novas tecnologias.

Nesse contexto surgiu a ideia da intercooperação, que colocou a Unium no patamar de segunda maior fabricante de leite nacional e com a melhor eficiência por produtor do país. A cooperativa também exporta carne suína para mais de 30 clientes ao redor do mundo.

Conclusão

A agregação de valor é fundamental para o sucesso de uma organização, principalmente no setor agropecuário. Apesar dos desafios, adotar estratégias para criar um diferencial do produto no mercado é uma ótima maneira de destacar a sua marca e desenvolver sua cooperativa.

Sabendo da importância da agregação de valor, o Diagnóstico de Negócios incluiu essa iniciativa como um dos cinco pilares que podem solucionar alguns problemas estruturais de cooperativas. Além disso, o material conta com informativos sobre perfis de cooperados e etapas detalhadas de como desenvolver ainda mais sua cooperativa.

E esse artigo foi apenas o quarto de uma série de posts completa que aborda cada um dos pilares citados no Manual do Diagnóstico de Negócios. Conferindo os outros materiais do blog, você pode ficar por dentro também de conteúdos sobre organização social para empreendimento, produção e gestão.