Inteligência de Mercado
Guerra entre Rússia e Ucrânia: os impactos para o coop
No dia 24 de fevereiro, despertamos com a notícia de que a Rússia havia invadido a Ucrânia. A guerra entre os dois países vem repercutindo, tanto por questões de interesse internacional e humanitário, como por seu impacto econômico, especialmente por conta do isolamento financeiro que a Rússia vem sofrendo. Esse acontecimento tem gerado consequências que impactam todos os modelos de negócio inclusive o cooperativismo. Embora não seja possível mensurar todo impacto das sanções econômicas por países e empresas, bem como o isolamento financeiro de um país importante como a Rússia, alguns efeitos econômicos já podem ser apontados:
- Preços de energia e commodities – incluindo trigo e outros grãos – subiram, aumentando as pressões inflacionárias de interrupções na cadeia de suprimentos e a recuperação da pandemia de Covid-19.
- Em meio às pressões de preços já elevadas, as autoridades monetárias precisarão monitorar cuidadosamente o repasse do aumento dos preços internacionais para a inflação doméstica, com o objetivo de calibrar as respostas apropriadas.
- As sanções anunciadas contra o Banco Central da Federação Russa restringiram severamente seu acesso às reservas internacionais para apoiar sua moeda e sistema financeiro. Países mais dependentes da economia russa sofrerão proporcionalmente. O rublo russo (moeda do país) está valendo menos de um centavo de dólar e atingiu uma baixa histórica depois de perder quase metade de seu valor desde que Putin anunciou a invasão da Ucrânia.
- A UE projeta redução do seu PIB (5,4% em 2021 para 3,7% em 2022), aumento da inflação (2,1% em 2021 para 5,1% em 2022) e queda de crescimento econômico em função principalmente dos preços de energia, comércio internacional e confiança do investidor.1
- Nos EUA a inflação é a mais alta desde 1982, atingindo 7,9% em março de 2022, pressionada principalmente pelo preço dos combustíveis.2
- A escalada eventual do conflito com a dominação russa sobre a Ucrânia pode trazer um cenário de inflação ainda maior, com baixo crescimento econômico no mundo todo (estagflação). Esse cenário gerará aversão ao risco, fuga de capital e impacto negativo na taxa de câmbio brasileira, com possiblidade de contração do PIB brasileiro, antes projetado em expansão de 0,42%3 em 2022. Por essa razão, um aumento da taxa de juros no Brasil pode vir em patamar superior ao estimado, prejudicando também consumo e investimentos.
- Os choques de preços afetarão especialmente as famílias pobres, para as quais alimentos e combustíveis representam uma proporção maior das despesas.
- A política fiscal do Brasil – já comprimida e deficitária – precisará apoiar ainda mais as famílias mais vulneráveis para ajudar a compensar o aumento do custo de vida. Além disso, caso o governo adote medidas fiscais para compensar um aumento do preço de combustível, a perda de arrecadação aumentaria ainda mais o déficit fiscal brasileiro, prejudicando o cenário econômico para 2022 e 2023.
- A guerra complica principalmente o cenário político das próximas eleições presidenciais no Brasil à medida que a economia tenta se recuperar da crise pandêmica e lida com os preços e com a potencial escassez de produtos.
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OS IMPACTOS NO COOP
Cadeia logística: O escoamento de produção pelos portos da Ucrânia e da Rússia estão comprometidos ou bloqueados, afetando os preços dos produtos escoados por ali. As principais companhias de transporte (Maersk e MSC) suspenderam suas atividades comerciais para comercialização de produtos russos, comprometendo ainda mais o comércio com a região.
Setor energético: A Rússia é uma grande fornecedora de combustível. A Europa é altamente dependente do gás russo, o que compromete parte das sanções internacionais destinadas àquele país. China, Coreia, Estados Unidos e Japão estão entre outros principais clientes do combustível russo. Neste contexto, Estados Unidos anunciaram restrição a importação de petróleo e gás originário da Rússia e Reino Unido pode ser o próximo a fazê-lo. Esse cenário terá impacto direto nos preços globais dos combustíveis, afetando diretamente o Brasil.
Fertilizantes importados da Rússia: A invasão russa afetou o fornecimento de gás natural, insumo relevante para a fabricação de fertilizantes. Tal fato, aliado às dificuldades de acesso a financiamentos internacionais, ocasionadas pelas sanções internacionais, comprometerão as exportações de fertilizantes russos. Uma das consequências disso é o aumento dos preços internacionais do produto. O Brasil é altamente dependente do fertilizante russo, sendo essa a sensibilidade mais marcante da guerra para o País e impactará diretamente o cooperativismo agropecuário. Como alternativa, O Brasil conta em sua pauta importadora com outros fornecedores externos potenciais: China; Canadá, Marrocos, Polônia e EUA. A Ministra da Agricultura do Brasil, Tereza Cristina, sinalizou início de negociações para aquisição do produto canadense.
Você sabia? Como estratégia para reduzir a dependência do Brasil das importações de fertilizantes, o Governo Federal lançou o Plano Nacional de Fertilizantes. A proposta traz medidas para os próximos 28 anos focadas em diminuir a atual dependência do produtor rural brasileiro em relação aos fertilizantes importados e aumentar a produção do Brasil. Entre as perspectivas do plano até 2030, vale ressaltar:
- Ter capacidade de produzir 1,9 milhão de toneladas de nitrogênio.
- Atrair ao menos R$ 10 bilhões em investimentos na construção de fábricas de fertilizantes nitrogenados
- Elevar a produção nacional de óxido de potássio a 2 milhões de toneladas.
- Ter capacidade produtiva de 4,2 milhões de toneladas em nutrientes de fosfato.
Frango: O Brasil vinha exportando o produto para Rússia e pode também ter que remanejar sua exportação para outros destinos compradores do produto brasileiro, como Japão, África do Sul, Arábia Saudita, Líbia, mercado asiático e oriente médio. Além dos clientes já sedimentados, o Brasil pode tentar aumentar o acesso ao mercado europeu e substituir o frango ucraniano que seria destinado à Europa, mas cuja exportação deve ficar limitada devido à guerra. Essa modificação na cadeia exportadora poderá afetar as cooperativas do Ramo Agropecuário, visto que o frango é um dos principais produtos exportados pelo setor.
Carne Suína: Em 2022, a Rússia representou 3,4% do valor das exportações brasileiras de carne suína 8º lugar em relação ao volume exportado. Além disso, 64,6% do volume das exportações de carne suína está concentrado nos seguintes destinos: China (37,1%), Hong Kong (10,0%), Filipinas (6,8%), Argentina (5,7%) e Singapura (5,1%). Neste sentido, assim como na cadeia produtiva das aves a carne suína tende a seguir o mesmo movimento. Para esse produto a realocação da exportação tende a ser mais trabalhosa.
Milho e trigo: Sendo Ucrânia e Rússia fornecedores relevantes de milho e trigo, o escoamento da produção na região do conflito será comprometido, afetando preços internacionais e a cadeia de suprimentos como um todo. Embora o Brasil não figure entre os principais compradores do trigo e milho da Rússia e Ucrânia, o impacto deve ser sentido nos preços como um todo. A falta do milho dessa região deve pressionar outros produtores mundiais de milho, elevando a pressão sobre os preços e a oferta do produto Brasileiro, não estando descartada a dificuldade de abastecimento do produto no Brasil até o início da safrinha (agosto/setembro) – sujeita às intempéries climáticas -, o que pode afetar também o setor de proteína animal, consumidora do produto.
Amendoins exportados do Brasil para Rússia: Sendo um dos principais produtos exportados do Brasil para a Rússia, os comerciantes de amendoim terão que buscar novos mercados, além de lidar com a parada repentina do fornecimento para Rússia e Ucrânia, devido as dificuldades logísticas e de pagamentos internacionais. Outros mercados relevantes no consumo de amendoim: China, Holanda, Indonésia, Alemanha, Reino Unido, Argélia, África do Sul, Colômbia, Australia. Deve-se estudar a possiblidade de abertura de novos mercados.
Soja exportada para Rússia: O Brasil e as cooperativas são grandes exportadores de soja . Diante de um cenário de oferta restrita do produto e preços favoráveis, a soja brasileira terá facilidade para entrada nos países afetados pela escassez dessa oleaginosa. Vale mencionar, também, que a produção de soja da Ucrânia atua na entressafra da do Brasil o que pressiona ainda mais os produtores do produto a fornecer esse insumo. O principal mercado da soja brasileira é o Chinês, mas pode-se considerar outros parceiros do produto brasileiro como Espanha, Tailândia, Turquia, Holanda, ou novos parceiros como República Dominicana, Bélgica, Bangladesh, Alemanha e Peru, que são grandes consumidores de soja. Diante desse cenário, caberá às cooperativas buscar uma diversificação de seus parceiros comerciais.
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