O avanço tecnológico modifica diariamente a maneira como as pessoas consomem. A rotina frenética que rege o mundo atual leva os consumidores a uma busca por opções cada vez mais ágeis, e nunca foi tão fácil ou prático pedir uma comida, pegar uma carona ou comprar roupa nova. A economia compartilhada é fruto desse contexto.

Uma importante virada de chave para essa realidade foi a crise financeira global de 2008. É em momentos de instabilidade que nascem ideias inovadoras. Portanto, durante esse período, considerado a pior crise econômica desde a Grande Depressão, surgiu a economia compartilhada.

Quando os modelos tradicionais de negócio começaram a ser questionados por conta da descrença mundial na economia falida, o novo modelo econômico surgiu como uma possível alternativa mais sustentável e estável para o consumo.

Hoje, grandes marcas são exemplos famosos de economia compartilhada, como o Uber, maior empresa de compartilhamento de viagens do mundo, e o iFood, que se posiciona como uma das principais startups mundiais. Vamos entender como esse formato funciona e qual a relação entre economia compartilhada e cooperativas de plataforma?

O que é economia compartilhada?

Com a necessidade de encontrar modelos de negócios mais flexíveis, sustentáveis e viáveis, a economia compartilhada surge como uma solução impulsionada pela tecnologia. A expansão da internet e dos smartphones permitiu a criação de plataformas e aplicativos que conectam prestadores de serviços com clientes, a apenas um clique de distância.

Nesse modelo de negócio, as empresas deixam de ser as principais fornecedoras e passam a atuar como facilitadoras do negócio. Ou seja, elas se tornam o meio de contato entre o consumidor e o comerciante, e não mais as provedoras de serviços ou de produtos.

Com isso, nasceram diversas marcas que, por meio de aplicativos e plataformas digitais, abriram espaço para o compartilhamento de serviços, carros, casas, alimentos e muito mais. Plataformas como OLX, Airbnb e BlaBlaCar são grandes exemplos de economia compartilhada.

Além dos nomes de marcas famosas, os números também representam como esse modelo de negócio se tornou bem-sucedido. Em 2023, a economia compartilhada já movimentava cerca de US$ 150 bilhões por ano, segundo levantamento da plataforma de dados Statista.

No Brasil, o cenário não é diferente. Pelo menos 74% das pessoas já utilizaram algum produto ou serviço via plataformas de economia compartilhada, de acordo com pesquisa promovida pela Confederação de Dirigentes Lojistas (CNDL).

A economia compartilhada e cooperativismo

Apesar do inegável sucesso da economia compartilhada, algumas questões a respeito do modelo de negócio ainda são alvo de debate. A falta de transparência com o uso dos dados dos usuários e a precarização do trabalho geram incômodo, tanto para os usuários, quanto para os trabalhadores dos aplicativos.

Apesar desses problemas, existe uma solução sustentável e justa para se trabalhar com as plataformas. Muito antes do surgimento da economia compartilhada, outro modelo de negócio já oferecia uma forma viável e duradoura de consumo: o cooperativismo.

Cooperativismo de plataforma

O modelo cooperativo se baseia na colaboração entre todos os cooperados para fomentar a economia e incentivar o crescimento mútuo dos associados. Nesse contexto, o cooperativismo de plataforma representa uma alternativa mais justa para a economia compartilhada.

O pesquisador Trebor Scholz, professor associado da The New School, em Nova York, definiu o cooperativismo de plataforma como um modelo que “refere-se a um projeto ou negócio que usa principalmente um site, aplicativo móvel ou protocolo para vender mercadorias (por exemplo, dados) ou serviços, e depende de uma tomada de decisão democrática e propriedade comunitária compartilhada por trabalhadores e usuários.”

Ou seja, no cooperativismo de plataforma, os usuários e trabalhadores são, também, os donos do negócio. Dentro desse modelo, é garantida uma governança democrática sobre o funcionamento da plataforma e todos os participantes ajudam nas tomadas de decisões.

Benefícios da economia compartilhada

Unindo a praticidade, os avanços tecnológicos e a troca entre pessoas, a economia compartilhada criou um modelo que preza pela sustentabilidade e pela colaboração de trabalhadores, plataformas e consumidores.

Seu sucesso é resultado dos diversos benefícios que esse modelo de negócio oferece. Listamos alguns exemplos:

Menores custos e maior acessibilidade

Com as plataformas de compartilhamento, os custos para adquirir um serviço ou produto diminuem consideravelmente. Em vez de comprar um carro ou se hospedar em um hotel, que costuma ser uma opção cara, é possível aproveitar caronas compartilhadas e alugar casas para fazer uma viagem mais acessível, por exemplo.

Ou então, ao pedir comida, as corridas disponibilizadas pela grande rede de motoristas de aplicativo oferecem uma opção mais em conta e prática do que buscar o pedido no restaurante. Essas e outras possibilidades fazem dos aplicativos de compartilhamento um meio fácil e barato de consumo.

Maior produtividade

O aumento da produtividade é outra vantagem desse modelo de negócio. A economia compartilhada facilita a criação de novas formas de trabalho e maneiras inovadoras de gerar uma renda extra.

A venda ou o aluguel de bens, por exemplo, possibilita a reutilização de objetos, casas, carros e outros produtos que estavam em desuso ou sem uma utilidade realmente produtiva.

Para quem está planejando uma viagem de carro, por exemplo, ao oferecer uma carona, o trajeto se torna uma forma de trabalho e renda extra, facilitando consequentemente a viagem de mais pessoas. No fim, todos os envolvidos saem ganhando.

Sustentabilidade

A reutilização e compartilhamento de objetos, carros, casas e outros bens também contribui para um modelo de negócio que é mais sustentável do que os tradicionais. Além de aplicativos como Enjoei e OLX, que incentivam a venda de bens usados e ajudam a reduzir o desperdício, outras plataformas possibilitam o compartilhamento de carros e bicicletas, diminuindo a necessidade de veículos particulares.

Esse compartilhamento diminui a demanda por comprar novos produtos e a obrigação de descartar produtos antigos, favorecendo a sustentabilidade e preservando o meio ambiente.

Conexão entre pessoas e negócios

A socialização é um dos pilares da economia compartilhada, afinal, é por meio da união de diversas pessoas que qualquer negócio baseado no compartilhamento se sustenta.

Nesse sentido, as plataformas surgem para facilitar a conexão entre os usuários, os negócios e os trabalhadores, possibilitando que a troca ocorra de forma mais fácil e ágil. Assim, a economia compartilhada fortalece os trabalhadores e os fornecedores locais, criando conexões mais fortes e verdadeiras dentro de comunidades.

Autonomia e liberdade de trabalho

Por serem autônomos, os trabalhadores das plataformas possuem a liberdade de definir seus horários e ditarem como e quando será sua jornada de trabalho. Isso garante maior autonomia, podendo conciliar o trabalho nas plataformas com outros empregos.

Pilares da economia compartilhada

Além das diversas vantagens, a economia compartilhada também apresenta três pilares que são essenciais para a sua durabilidade e sucesso: o social, o econômico e o tecnológico.

  • O primeiro é o elemento social. O compartilhamento pelas plataformas garante que esse modelo promova a conexão entre pessoas, tanto as que oferecem quanto as que adquirem produtos e serviços. É por meio dessas conexões sociais fortalecidas que a economia compartilhada se mantém.
  • Já o pilar econômico assegura que esse modelo seja sustentável e viável a longo prazo. Com o compartilhamento de bens, espaços e serviços, as plataformas possibilitam um consumo com gastos menores do que outros modelos econômicos no mercado. É justamente tal acessibilidade e economia de custos que garante uma alta demanda nessas plataformas.
  • E a tecnologia, terceiro pilar, é a base desse modelo. Afinal, é graças aos avanços tecnológicos que a economia compartilhada surgiu e se mantém potente até hoje.

Esse modelo de negócio aproveita o poder da internet, das plataformas digitais, dos aplicativos e dos métodos de pagamento online para viabilizar essas trocas de forma rápida e simples. Com apenas um smartphone, qualquer um tem acesso a diversas plataformas que oferecem desde o aluguel de uma roupa, até a possibilidade de pegar um carro emprestado.

Esses pilares unem ainda mais a economia compartilhada ao modelo cooperativo, uma vez que cooperativismo também se baseia na inclusão social e econômica de seus associados.

Além disso, em ambos os modelos, a peça central que impulsiona o crescimento das marcas e gera impactos verdadeiramente significativos na sociedade é a coletividade. Tanto a economia compartilhada quanto o cooperativismo sabem o poder da união e cooperação para se destacar no mercado.

Conclusão

Entendendo tais semelhanças, é possível enxergar não apenas como os modelos de negócio se parecem, mas como eles podem ser fortalecidos ao se unirem. Afinal, o cooperativismo já pratica uma verdadeira economia compartilhada há anos, incentivando a partilha entre seus cooperados.

Dessa maneira, as cooperativas de plataformas surgem como forma de aprimorar a economia compartilhada, impulsionando um modelo de negócio que já se consolidou como um dos principais do mundo.

Economia compartilhada e cooperativismo mostram que, com a união entre pessoas e o fortalecimento de conexões, os negócios tendem a crescer e a economia a se reinventar – sempre para melhor.

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