Diante do elevado número de opções para o consumidor, das expectativas sobre o papel das organizações e da necessidade constante de inovação, pode-se dizer que o mercado atual é bastante competitivo. Fato que se acentua especialmente quando todas as outras organizações do ramo são suas concorrentes.

As cooperativas podem olhar para este mercado competitivo de maneira singular. A intercooperação, uma característica fundamental do movimento, é capaz de fortalecer a organização e até mesmo transformar concorrentes em aliados.

Se a intercooperação for integrada de maneira consistente ao modus operandi da cooperativa, aparecendo no planejamento e na execução de projetos, pode se transformar em um verdadeiro diferencial estratégico. Confira neste artigo do NegóciosCoop quais os benefícios de intercooperar e conheça exemplos reais dessa prática.

1. Intercooperação é princípio

Intercooperar é mais que uma simples palavra utilizada para propagar a imagem do cooperativismo, é um verdadeiro princípio. Nas palavras da Aliança Cooperativa Internacional, “as cooperativas servem seus membros de maneira mais efetiva e fortalecem o movimento ao trabalharem juntas através de estruturas locais, nacionais, regionais e internacionais”.

Além de ser o sexto princípio do cooperativismo, a intercooperação é, portanto, uma forma de impulsionar o movimento. A colaboração entre organizações é uma ótima ideia e, como veremos adiante, a realidade sustenta a teoria em diversos exemplos.

A intercooperação pode ocorrer dentro do próprio sistema ou entre cooperativas sem conexão prévia. As parcerias são organizadas de diversas formas, mas há dois tipos mais comuns:

  • Horizontal: cooperativas de ramos diferentes unem forças para obter benefícios em conjunto, cada uma prestando serviços coerentes à sua área.
  • Vertical: cooperativas do mesmo setor se unem para criar uma central, a fim de consolidar e expandir uma marca unificada.

Agora que você já sabe o básico sobre intercooperação, conheça motivos para incorporar essa prática ao planejamento estratégico da sua cooperativa.

2. Fortalece a inovação

Não restam dúvidas que inovar é uma enorme vantagem competitiva. Portanto, apostar em uma estratégia que fomente a inovação é um passo na direção correta. E é justamente esse um dos benefícios proporcionados pela intercooperação.

Dificilmente uma pessoa é capaz de conceber inovações sozinha e transformá-las em um sucesso. Inovar é um processo que demanda pesquisa, compreensão sobre o público-alvo e aperfeiçoamento. As interações entre colaboradores ajudam a incentivar a experimentação, o teste de hipóteses para aprimorar as ideias originais. Quando trabalhadores de diferentes cooperativas apresentam suas perspectivas, o resultado tende a ser mais completo, englobando insights diversificados ao produto ou serviço.

Lançar uma inovação é mais fácil quando a organização se relaciona de forma consistente com uma base de clientes – ou cooperados. E quando duas ou mais cooperativas trabalham em conjunto, amplia-se o chamado efeito de rede, a disseminação do novo produto ou serviço para que ele se torne viável. Comunicar sobre a inovação a diferentes comunidades e expandir os meios de acesso ajuda a elevar a demanda, consolidando a rede de impacto.

Por fim, criar novos produtos e serviços é mais simples quando a responsabilidade é compartilhada. De acordo com a mais recente Pesquisa de Inovação no Cooperativismo Brasileiro, a falta de recursos financeiros é a principal barreira para inovar, atingindo 46% das cooperativas. A intercooperação surge como uma alternativa para unir forças e combinar investimentos, expertise técnica ou até mesmo acesso a novos mercados.

Encontra soluções criativas

É natural que uma cooperativa encontre problemas em sua operação ao longo do tempo. Seja na atividade principal – na produção, na distribuição ou na venda – ou seja uma questão interna – a comunicação com os colaboradores, por exemplo –, é importante buscar rotas para otimizar os processos. A questão é que, em alguns casos, a solução não está no escopo de atuação da organização.

É justamente nesses contextos que mais um benefício da intercooperação fica evidente: o trabalho conjunto em busca de respostas criativas. A solução para resolver o problema da sua cooperativa pode já existir, talvez você apenas não saiba.

Atuar em parceria com organizações especializadas em outras áreas, especialmente em desenvolvimento tecnológico, tem potencial para tirar ideias do papel, modernizar operações antigas e resolver questões multidisciplinares, impossíveis de serem solucionadas por apenas uma organização.

Diante das possibilidades tecnológicas atuais, intercooperar se torna uma tarefa cada vez mais simples. As reuniões podem ocorrer a distância, a troca de informações pode ser virtual e os canais de comunicação são instantâneos. Isso expande fronteiras e aumenta a possibilidade de encontrar a cooperativa ideal para trabalhar em conjunto.

Une organizações com valores similares

O mercado atual exige mais que somente produtos e serviços, e espera que as organizações entreguem mais que apenas resultados. É essencial para as marcas terem propósito, valores e motivações. No cooperativismo, a construção dessa reputação é impulsionada pela credibilidade de um movimento com séculos de história e princípios claros. Mas é possível potencializá-la ainda mais.

Trabalhar em conjunto com outra organização de reputação positiva reforça que sua cooperativa está interessada em cumprir um propósito maior que os resultados financeiros. Quando uma organização faz o bem, ela fortalece a própria imagem. Já quando o esforço vem de diversas frentes, o movimento cooperativista cresce, atingindo maiores públicos e propagando os seus benefícios.

A escolha pelo trabalho conjunto vai além da reputação e se reflete em uma questão comercial. Ao unir-se a organizações do mesmo setor, concorrentes podem virar parceiros, e os ganhos compartilhados impulsionam a atividade econômica e o desenvolvimento social. A colaboração facilita o desenvolvimento de um ecossistema de inovação e a troca de conhecimento.

Por fim, outro possível benefício da intercooperação é a união de forças em prol de iniciativas sustentáveis. Observa-se que diversos exemplos de colaboração entre cooperativas têm como foco a preservação ambiental. A junção de recursos ajuda a tirar projetos do papel, contribuindo para o planeta e para a reputação das cooperativas envolvidas.

Casos práticos de intercooperação

Diante de tantos bons motivos, fica evidente por que a intercooperação pode ser um diferencial estratégico significativo. Confira a seguir exemplos práticos de como as cooperativas têm trabalhado em conjunto para alcançar seus objetivos.

Inovação na agropecuária

Frísia, Castrolanda e Capal são cooperativas paranaenses de longa história no ramo agropecuário. Elas deixaram de ser concorrentes para adotar o caminho da intercooperação em 2014, quando fundaram a marca Unium, uma representação de seus objetivos unificados. Sete anos depois, as organizações decidiram elevar a parceria a um novo nível.

As três cooperativas criaram o CoopMode, um ecossistema de inovação, e convidaram a Agrária para participar. O projeto incentiva a cultura de inovação, alinha projetos conjuntos e conecta as organizações a outros ecossistemas similares. Diante de desafios em comum, nomes fortes da agropecuária se uniram e vêm modernizando o setor.

Desejo de intercooperação culmina em energia limpa

A Certel, do ramo de infraestrutura, promoveu reuniões com cooperativas do Sistema Sicredi em busca de oportunidades de intercooperação benéficas para todos os lados. Surgiu, assim, a ideia de construir a hidrelétrica Vale do Leite, visando ampliar a geração de energia limpa.

O projeto, viabilizado financeiramente pelo apoio do Sicredi, atende quatro cooperativas de crédito do sistema: Região dos Vales, Ouro Branco, Integração RS/MG e Botucaraí. Após captação de quase R$ 50 milhões, o projeto saiu do papel e se tornou a quinta hidrelétrica da Certel. Além de beneficiar as cooperativas, a geração de energia elétrica estimula o desenvolvimento socioeconômico da região.

Saúde na palma da mão

Devido à urgência sanitária provocada pela pandemia de Covid-19, decretada em 2020, a Unifop precisou adaptar seus serviços de maneira urgente. A solução encontrada pela cooperativa de saúde foi lançar um sistema de telemedicina. O projeto só ganhou corpo devido à intercooperação.

A elaboração e o desenvolvimento da ferramenta que assegura o atendimento a distância ocorreu em parceria com a LibreCode, cooperativa especializada em desenvolvimento de softwares. A iniciativa se mostrou um sucesso, atendendo às demandas daquele contexto e ajudando a Unifop a ampliar sua área de atuação para o futuro.

Escola de capacitação estimula avicultura

A Coagru, cooperativa agroindustrial paranaense, decidiu expandir sua atuação e ingressar na avicultura. A novidade, no entanto, veio acompanhada de problemas, tendo em vista que nem todos os produtores possuíam a expertise necessária ou propriedades adequadas. Diante da dificuldade para encontrar trabalhadores qualificados nessas funções, a solução encontrada foi a capacitação dos cooperados.

Surgiu assim a Escola Técnica Avícola, com aporte de R$ 1,5 milhão do Sicredi Vale do Piquiri para obras. A construção da estrutura de treinamento elevou a produtividade da Coagru e fortaleceu a atividade avícola na região, contemplando os objetivos das duas cooperativas.

Assembleias digitais mais simples e modernas

A Coopersystem, cooperativa de trabalho especializada em tecnologia da informação (TI), desenvolveu o Curia, um aplicativo propício para a realização de assembleias gerais ordinárias a distância. Em um primeiro momento, a ideia era utilizá-lo apenas internamente. Entretanto, os planos se alteraram diante da pandemia e da necessidade de outras cooperativas, o que resultou em intercooperação.

O sistema passou a ser utilizado por outras organizações, como a Cogem, a Expocaccer e a Unimed Federação Rio. O Curia registra a presença dos cooperados nas assembleias, transforma pautas em votações e, quando necessário, inclui propostas em tempo real. O aplicativo garante uma alternativa nova e segura de participação nas reuniões.

Conclusão: o poder da intercooperação para os negócios

A teoria e a prática mostram que a intercooperação tem alto potencial de ser um diferencial estratégico, trazendo ganhos à organização em diversas frentes. Se a sua cooperativa não une forças com outras associações de maneira consistente, não perca tempo e busque possibilidades de trabalho em conjunto.

Alinhar interesses de diferentes cooperativas nem sempre será uma tarefa simples. Prepare-se para lidar com essas situações com o curso sobre negociação e processos decisórios! Aprenda a desenvolver uma visão sistêmica e as melhores abordagens para adotar em reuniões decisivas.