O setor financeiro global vem adotando e desenvolvendo uma série de novas soluções tecnológicas relacionadas à digitalização. Essas movimentações buscam tornar as operações mais eficientes, ágeis e menos custosas. Nesse cenário, o segmento está caminhando rumo à tokenização da economia.

Em meio à popularização dos pagamentos digitais, a expansão dos canais de atendimento e a adesão às novas plataformas, a tokenização da economia desponta como o próximo grande passo na revolução financeira digital em andamento.

Ou seja: a tokenização da economia é um movimento mundial que almeja transformar ativos financeiros em tokens digitais a fim de digitalizar, agilizar e dar mais segurança a todo o ecossistema financeiro.

Esse é o caso, por exemplo, do Drex, o Real Digital, que está sendo desenvolvido pelo Banco Central do Brasil. Neste artigo, vamos entender um pouco mais sobre a tokenização da economia, os conceitos por trás desse fenômeno, as aplicações do Drex e o impacto disso tudo no cooperativismo. Tenha uma boa leitura!

O que é tokenização da economia

Na prática, a tokenização da economia acontece por meio da transformação de um ativo físico em um token. Esse ativo pode ser dinheiro, um imóvel ou uma commodity, por exemplo. Isto é: um token é, em suma, a representação digital de um determinado bem na íntegra ou em frações.

Os tokens ficam armazenados em uma rede como o blockchain, que registra todas as transações e a propriedade do token de forma segura e descentralizada. Com isso, há a garantia de que as movimentações são à prova de adulteração.

Tipos de tokens

Os tokens podem ser divididos em duas categorias: os tokens fungíveis e os não fungíveis, que são conhecidos pela sigla NFT (non fungible token). Eles podem ser definidos da seguinte maneira:

  • Tokens fungíveis: são tokens intercambiáveis que possuem as mesmas características. Trata-se, portanto, de um token que pode ser trocado por outro idêntico com o mesmo valor, sem diferença. É como se fosse uma commodity.
  • Tokens não-fungíveis: quer dizer que o token é único e, por isso, não pode ser replicado. Suas características são singulares. Geralmente o NFT é usado para comercializar obras de arte digitais, como aconteceu na febre da coleção Bored Ape. Imagine uma escultura de Michelangelo: única e que não pode ser substituída por outra igual.

Categorias de aplicação dos tokens

Já há instituições financeiras que emitem valores mobiliários na forma de tokens a fim de comercializar papéis de dívida, imóveis e outros ativos diversos. Nessa seara, é possível categorizá-las da seguinte maneira:

  • Payment token: criptomoedas usadas como meio de pagamento.
  • Utility token: concede acesso a um determinado produto como em um programa de fidelidade.
  • Security token: usado na transação de ativos negociáveis – ações e imóveis, por exemplo.
  • Equity token: empregado na captação de recursos, reserva de valor e investimentos.

Na prática, um mesmo token pode se enquadrar em mais de uma dessas categorias de aplicação, o que mostra a flexibilidade desse modelo.

Por que tokenizar as finanças?

Segundo o Banco de Compensações Internacionais (BIS), a tokenização da economia vai aprimorar a eficiência e mitigar riscos nos sistemas globais de pagamento. Isso acontecerá porque as transações serão rastreáveis, seguras, ágeis e regidas por contratos inteligentes.

Com isso, a expectativa é de que a tokenização consiga democratizar o acesso a serviços financeiros com segurança e automação. Há, também, um processo global de digitalização das finanças como um todo e a tokenização da economia se apresenta como a próxima grande etapa dessa evolução.

Panorama da tokenização na economia

O Fórum Econômico Mundial e o Boston Consulting Group estimam que a economia tokenizada representará US$ 16 trilhões entre 2027 e 2030. Esse valor é o equivalente a cerca de 10% de todo PIB mundial.

Essa expectativa demonstra que a tokenização da economia já é um processo em andamento e que progride em uma alta velocidade. Dessa forma, o seu impacto no setor financeiro será grande e demanda atenção.

CDBCs: os BCs e a moedas digitais

Grande parte desse impacto decorre da criação das moedas digitais oficiais dos países. São os CDBCs (central bank digital currency, ou, em português, moeda digital do banco central), que são alvo de estudos e projetos de diversos países ao redor do mundo em busca da modernização dos sistemas financeiros.

Por enquanto, 11 países já contam com suas próprias moedas digitais. É o caso, por exemplo, da China, que criou o yuan digital (batizado como e-CNY). A CDBC chinesa foi lançada em 2022, durante os jogos olímpicos de inverno sediados em Pequim. Ao final daquele ano, mais de 13 bilhões de yuans digitais circulavam por 260 milhões de carteiras digitais no país.

A União Europeia, por sua vez, também tem o seu projeto de uma CDBC unificada para todos os países do bloco econômico. Trata-se do Euro Digital, que será regulado pelo Banco Central Europeu e ainda está em fase de preparação, sem uma data prevista de lançamento.

Drex: a tokenização da economia brasileira

O Brasil é um destaque mundial em relação à digitalização da economia. O Pix, por exemplo, já virou referência global. Agora, o Banco Central está desenvolvendo o Real Digital, que ganhou o nome de Drex, para acelerar a tokenização da economia brasileira.

O objetivo do Drex é tornar o ecossistema financeiro brasileiro mais ágil, moderno e inovador. A ideia é que o Drex possibilite a criação de uma nova plataforma para a negociação de ativos tokenizados. Dessa maneira, o Real Digital vai funcionar como um mecanismo para intermediar transações e garantir a segurança dos negócios.

O projeto já está em um patamar avançado. A estimativa do Banco Central do Brasil é lançar o Drex entre o final de 2024 e o início de 2025. Roberto Campos Neto, presidente do BC, acredita que a transformação da economia passa pela conexão entre moedas digitais e a tokenização de ativos para negociação.

Tokenização e cooperativismo

O cooperativismo está participando do desenvolvimento do Drex. Um consórcio formado por Sicoob, Sicredi, Ailos, Cresol e Unicred participa dos testes com o piloto do Drex. O grupo afirmou que:

“Os sistemas cooperativos estão envolvidos nas mais diversas discussões de inovação do mercado financeiro, entre elas, a tecnologia blockchain: essa experiência dos players foi fundamental para que o BC selecionasse a coalização para participar do piloto, já que a experiência na tecnologia era um dos critérios para a seleção”.

A princípio, a novidade deve causar impacto maior nas cooperativas de crédito, mas outros ramos também devem ficar de olho nesse processo. Os tokens podem ser relevantes para o mercado de seguros, por exemplo. Cooperativas que exportam também podem acompanhar a possibilidade de usar CDBCs para receber o pagamento de suas negociações com o mercado internacional.

Além disso, há outros caminhos que as cooperativas podem tomar rumo à tokenização. É o caso da Minasul, uma cooperativa agropecuária mineira, que criou o coffe coin, uma criptomoeda que tokeniza sacas de café.

Conclusão

A tokenização da economia global se apresenta como uma próxima etapa na evolução das finanças, aproveitando a inovação e as novas ferramentas tecnológicas. Esse avanço também se alinha aos princípios cooperativistas, oferecendo maior liquidez e acesso a mercados mais amplos.

Nesse sentido, o InovaCoop listou a tokenização da economia como uma das grandes tendências que as cooperativas devem acompanhar em 2024.

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