Por Amanda Cieglinski 

Prever o futuro não é mais tarefa de astrólogos, cartomantes e videntes. Virou profissão e é uma atividade que pode ser muito importante para determinar o sucesso ou fracasso de um negócio, inclusive das cooperativas. O trabalho dos futurologistas e a cultura de predição foram um dos temas discutidos na Semana Conexão Coop. A mesa contou com importantes nomes da área que trabalham constantemente na busca por respostas que ajudam a prever como a sociedade vai se comportar a curto, médio e longo prazo – e os impactos dessas mudanças, cada vez mais aceleradas, nos diferentes mercados.  

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 “O futurismo é um trabalho que busca explorar futuros alternativos, inclui desenhos de cenários, análise de movimentos científicos e tecnológicos capazes de transformar nossa sociedade. É um campo de pesquisa amplo em que a gente usa um misto de abordagens e métodos para compreender e nos aproximar das informações que possam apontar para futuros”, explica Paula Abbas, pesquisadora de tendências e professora de design thinking e inovação do Instituto Superior de Administração e Economia (ISAE). 

Ela é uma das autoras do estudo “Coop de olho no futuro: tendências de mercado diante de um novo mundo”, que foi lançado durante o evento. Ela falou aos representantes de cooperativas sobre a importância da “alfabetização em futuros”, considerada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) uma habilidade para o Século 21. Trata-se da capacidade de compreender melhor o papel que o futuro vai desempenhar naquilo que as pessoas veem e fazem no presente.  

Acesse o estudo “Coop de olho no futuro: tendências de mercado diante de um novo mundo” aqui.

Profissionais como a Paula não trabalham com bola de cristal, mas se dedicam a estudar pesquisas de diversos campos do saber para analisar os movimentos da sociedade, em diferentes áreas, seja na tecnologia, na economia ou no comportamento das pessoas. São informações que podem mudar a forma de enxergarmos nossa atuação enquanto cooperativa e até mesmo o futuro do próprio cooperativismo. 

“Isso vai se realizar? Esse é um dos grandes questionamentos que vem quando pegamos um estudo de tendências. O propósito é imaginar futuros, se tornar capaz de compreender para que direção a nossa sociedade, que é dinâmica, está caminhando. Para que a gente possa conseguir propor alternativas estratégicas para futuros desejáveis”, aponta.  

Paula sempre fala de futuros, assim mesmo no plural, porque eles dependem da nossa habilidade em analisar cenários e capacidade de intervenção. Eles podem ser possíveis, prováveis ou desejáveis. “Não temos nenhum tipo de bola de cristal, mas uma quantidade de dados quantitativos e qualitativos que nos mostram as mudanças que estão acontecendo na nossa sociedade, no meio ambiente, no pensamento das pessoas, nas tecnologias e que causam um impacto sistêmico”, indica.  

Pesquisa de tendências na prática com a Unimed-BH 

Para entender como o trabalho de pesquisa de tendências funciona na prática de uma cooperativa, o painel contou com a participação da Unimed-BH, cooperativa que tem um trabalho reconhecido na área de inovação.   

Em 2014, a organização criou um Centro de Inovação para fortalecer e disseminar essa cultura dentro da cooperativa. O centro mantém uma equipe permanente de análise de tendências, promove eventos internos e externos e parcerias com instituições de pesquisa. Por essa razão, a telemedicina, que passou a ser utilizada em larga escala durante a pandemia do novo coronavírus, já estava no radar da Unimed BH há alguns anos.  

“Apenas três dias após a declaração da pandemia e autorização para realização de consultas online, nós já estávamos operando o sistema. Por meio da teleconsulta, fizemos mais de 451 mil consultas online, é um público que foi retirado do serviço do pronto-atendimento. A gente salva muitas vidas com essa plataforma porque seriam possíveis 451 mil clientes com algum sintoma, circulando pelas ruas”, explica Rafael Paolinelli, gerente de inovação e convergência da Unimed BH.  

Justamente pelo trabalho de análise de tendências, a cooperativa já estava apostando no formato de consultas online e um projeto piloto operava desde 2018. Com isso, a equipe teve condições de colocar uma solução no ar em um curto espaço de tempo no momento em que a pandemia foi deflagrada. Outra “coincidência” foi que o último grande evento presencial do Centro de Inovação da cooperativa discutiu, justamente, o futuro da telemedicina, no início de março de 2020. Havia inclusive a previsão de palestrantes internacionais, que tiveram que participar a distância – o primeiro evento híbrido da cooperativa, antes mesmo de a pandemia surgir com força. 

“Isso só foi possível porque a gente estava com uma equipe interna estudando futuros e cenários que tínhamos pela frente e sabíamos que precisávamos falar de telemedicina, mesmo ainda em um cenário desfavorável para aplicação com o cliente, mas sabíamos que era uma tendência”, afirma Paolinelli.  

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Desde o início da pandemia, o serviço de telessaúde da Unimed BH foi ampliado com a oferta de outras especialidades, mesmo não relacionadas à covid-19. Atualmente, a média é de 3 mil atendimentos diários de telemedicina. Além desse projeto, o Centro de Inovação é responsável por iniciativas que reduzem custos e ampliam a capacidade de atendimento ao cliente por meio do uso da inteligência artificial.  

O diretor-administrativo da Unimed-BH, Eudes Magalhães, lembra que a telemedicina já era adotada de maneira intensiva em diversos países e as experiências mais arrojadas no Brasil começaram na década de 90. A aposta, agora, é que ela siga em franca expansão.  

“A pandemia acelerou uma discussão que já estava em curso sobre a evolução da prática, impulsionou o uso em massa e também demonstrou que o país já tem recursos tecnológicos e de segurança digital que conseguem suportar essa expansão, criando garantias de que este é um modelo que veio para complementar e aprimorar o trabalho dos profissionais de saúde, bem como criar alternativas que vão sofisticar o vínculo e a interação com pacientes daqui para frente”, acredita. 

Quer saber mais sobre futurologia? Assista à palestra do Investigador de Futuros Tiago Mattos  durante a Semana InovaCoop. Os detalhes você encontra aqui